segunda-feira, 30 de setembro de 2019
Pão de sal
Pão de sal, salvo o poema, põe no papel, do pão, aquele troço do coração, aquele traço do teu cabelo, pão quentinho, francês, tal Baudelaire, que a gente escreve o que o paladar não dá conta, ô troço...
domingo, 29 de setembro de 2019
sábado, 28 de setembro de 2019
sexta-feira, 27 de setembro de 2019
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
Dança da chuva
Dança da chuva, setembros que passeiam entre nomes de canções de bem-me-quer... Quero, sorvete de manga, pé-de-pau pra subir, fitar teu vestido e assobiar um sorriso
terça-feira, 24 de setembro de 2019
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
Sonho
E te sonhei, em um sonho de João Cabral de Melo Neto, de palavras arquitetadas, rimas de quina, e tu curva, curvilínea, linha do horizonte, pôr-do-Sol do oitavo andar, sete passos pro poente, poeta que conta palavras, sonho de contar carneirinhos, contar do café que tomei enquanto lembrava de ti.
João Cabral de Melo Neto - Os três mal-amados, 1943
O amor comeu meu nome, minha identidade,
meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade,
minha genealogia, meu endereço. O amor
comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos
os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas
camisas. O amor comeu metros e metros de
gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o
número de meus sapatos, o tamanho de meus
chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a
cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas
médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas,
minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus
testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de
poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações
em verso. Comeu no dicionário as palavras que
poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso:
pente, navalha, escovas, tesouras de unhas,
canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de
meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada
no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto
mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu
a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de
propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos
que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde
irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta,
cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas.
O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos,
e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua
chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba
de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam
sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas
de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a
água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os
mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde
ácido das plantas de cana cobrindo os morros
regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo
trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de
cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas
coisas de que eu desesperava por não saber falar
delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas
folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de
meu relógio, os anos que as linhas de minha mão
asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro
grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da
terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e
minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu
silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade,
minha genealogia, meu endereço. O amor
comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos
os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas
camisas. O amor comeu metros e metros de
gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o
número de meus sapatos, o tamanho de meus
chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a
cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas
médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas,
minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus
testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de
poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações
em verso. Comeu no dicionário as palavras que
poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso:
pente, navalha, escovas, tesouras de unhas,
canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de
meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada
no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto
mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu
a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de
propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos
que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde
irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta,
cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas.
O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos,
e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua
chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba
de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam
sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas
de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a
água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os
mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde
ácido das plantas de cana cobrindo os morros
regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo
trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de
cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas
coisas de que eu desesperava por não saber falar
delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas
folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de
meu relógio, os anos que as linhas de minha mão
asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro
grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da
terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e
minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu
silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
domingo, 22 de setembro de 2019
sábado, 21 de setembro de 2019
Respiro
Na sala, sábado que passa, tarde que desliza,
tu é um respiro
na umidade que flerta com os 10%, sombra que se esconde,
tu é um respiro
tu é um respiro
na umidade que flerta com os 10%, sombra que se esconde,
tu é um respiro
sexta-feira, 20 de setembro de 2019
quinta-feira, 19 de setembro de 2019
Tudo
E cada palavra é tudo
é parte
é tudo de mim
são os olhos fechados
começar o infinito pela outra ponta
é ponte
aponta uma seta gigante
em neon
pro teu calcanhar
é parte
é tudo de mim
são os olhos fechados
começar o infinito pela outra ponta
é ponte
aponta uma seta gigante
em neon
pro teu calcanhar
quarta-feira, 18 de setembro de 2019
terça-feira, 17 de setembro de 2019
toddynho
na ponta do ponteiro, faço ponto, dou nó na hora, ora, fecho um olho, e te sonho, pronto, já, fecho o outro, outro sonho, toco teu mindinho, todinho, toddynho, só pra mim.
segunda-feira, 16 de setembro de 2019
domingo, 15 de setembro de 2019
Domingo
Domingo é odisseia sem te ver, Ítaca tão longe, e meu rocinante nem sabe nadar, e nada de teus ares de dulcineia figura, só a enorme, gigante, segunda que se anuncia, por círculos e círculos, distantes de teus olhos beatrícicos, didáticos quanto aos milímetros que separam meus calcanhares do solo.
sábado, 14 de setembro de 2019
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
Bus da Viplan
Tua pálpebra esquerda, nuance que desconstrói o cinza da semana, cinza do finado ônibus da Viplan, de cadeiras que chacoalhavam, e eu prefiro que tuas cadeiras balancem, o equilíbrio das cores da tua paleta.
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
quarta-feira, 11 de setembro de 2019
terça-feira, 10 de setembro de 2019
segunda-feira, 9 de setembro de 2019
Pala
Dou pala,
paladino de cafés exóticos,
meus delírios ópticos te desenham no cappuccino,
de lírios,
ótimos,
oh,
vê só,
apoteóticos rios,
hipnóticos,
teus traços na minha xícara.
paladino de cafés exóticos,
meus delírios ópticos te desenham no cappuccino,
de lírios,
ótimos,
oh,
vê só,
apoteóticos rios,
hipnóticos,
teus traços na minha xícara.
domingo, 8 de setembro de 2019
sábado, 7 de setembro de 2019
Sorte de sábado
Traz teu tarô
tuas cartas
te escrevo no verso
jogo meus búzios
buzino besteira na tua orelha
leio tua mão, pé, fêmur
esparramo meu nome em teu alfabeto
escrevo um conto de cartomante
pra saber dos teus passos
passo a tarde olhando pra borra do café
tuas cartas
te escrevo no verso
jogo meus búzios
buzino besteira na tua orelha
leio tua mão, pé, fêmur
esparramo meu nome em teu alfabeto
escrevo um conto de cartomante
pra saber dos teus passos
passo a tarde olhando pra borra do café
sexta-feira, 6 de setembro de 2019
quinta-feira, 5 de setembro de 2019
quarta-feira, 4 de setembro de 2019
Matutar
Caço é motivo pra mover pensamento pras tuas coxas, a ideia que roça tua saia é minha, pois, saiba, já, que o trato que fiz com o vento foi de transitar com o verbo por teus arredores, foi de triscar tuas cadeiras com meu matutar
terça-feira, 3 de setembro de 2019
segunda-feira, 2 de setembro de 2019
Oi
Saga de verso
é siga da seta
salto do trecho
treco que diz
desdizendo
benzendo e bendizendo
indo
e voltando
é volta
círculo, já
de encanto
é canto
e é reta
traçada e trançada
tarada, por vezes
é vez e é voz
é voo
vou ali
espiar a esquina
que é quina
loteria
ia, mas foi
oi, como vai?
é siga da seta
salto do trecho
treco que diz
desdizendo
benzendo e bendizendo
indo
e voltando
é volta
círculo, já
de encanto
é canto
e é reta
traçada e trançada
tarada, por vezes
é vez e é voz
é voo
vou ali
espiar a esquina
que é quina
loteria
ia, mas foi
oi, como vai?
domingo, 1 de setembro de 2019
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