quinta-feira, 31 de outubro de 2019
só os olhos
de papas na língua, linguajar, gargarejo a palavra, três sussurros e te digo já que desejo as estrelas do céu da tua boca, pra fazer pedido, baixinho, e fechar os olhos, mas só os olhos, viu
quarta-feira, 30 de outubro de 2019
árvore cósmica
dobro esquina após esquina, e cada página é uma possibilidade de dar de cara com tua cara, minha cara, saber desse ramo dessa árvore quântica e cósmica, imaginar em qual galho teu cabelo passeia por outra cor ou tamanho...
terça-feira, 29 de outubro de 2019
segunda-feira, 28 de outubro de 2019
Amor de tarde - Mario Benedetti
Amor de tarde
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cuatro
y acabo la planilla y pienso diez minutos
y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
y me doblo los dedos y les saco mentiras.
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cinco
y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un oído que escucha como ladra el teléfono
o un tipo que hace números y les saca verdades.
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las seis.
Podrías acercarte de sorpresa
y decirme «¿Qué tal?» y quedaríamos
yo con la mancha roja de tus labios
tú con el tizne azul de mi carbónico.
Mario Benedetti, en “Poemas de la oficina” (1953-1956).
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cuatro
y acabo la planilla y pienso diez minutos
y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
y me doblo los dedos y les saco mentiras.
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cinco
y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un oído que escucha como ladra el teléfono
o un tipo que hace números y les saca verdades.
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las seis.
Podrías acercarte de sorpresa
y decirme «¿Qué tal?» y quedaríamos
yo con la mancha roja de tus labios
tú con el tizne azul de mi carbónico.
Mario Benedetti, en “Poemas de la oficina” (1953-1956).
domingo, 27 de outubro de 2019
te encontro
como regra, digo da busca, mas te encontro na cena inusitada do filme de um diretor estrangeiro, na paisagem da cidade que visito pela primeira vez, na próxima página do livro que me encanta, no pôr-do-Sol que faz pose pra foto, no café que alguma alma me recomendou recentemente, na música recém-descoberta de uma bandinha desconhecida, no poema que escreverei no dia seguinte...
sábado, 26 de outubro de 2019
Saudade - Mia Couto
"A saudade é uma tatuagem na alma: só nos livramos dela perdendo um pedaço de nós."
- Mia Couto
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
quarta-feira, 23 de outubro de 2019
brincar de encruzilhada
Eu do meu canto,
com minhas certezas quadradas
que não descem ladeira
nem sobem pé-de-goiaba
largo mão do ponto final
abraço as reticências
flerto já com o acaso
vou brincar de encruzilhada
acalentar o despropósito
de propósito
com minhas certezas quadradas
que não descem ladeira
nem sobem pé-de-goiaba
largo mão do ponto final
abraço as reticências
flerto já com o acaso
vou brincar de encruzilhada
acalentar o despropósito
de propósito
terça-feira, 22 de outubro de 2019
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
carnaval
encosta tua angústia na minha e façamos um carnaval, meu café e teu chá, um poema de Neruda, a contingência do mundo e um beijo na bochecha.
domingo, 20 de outubro de 2019
sábado, 19 de outubro de 2019
num sábado
e se te avisto, num sábado, num século por entre os séculos, e minhas pernas param, o ponteiro se esconde, rotação e translação se confundem, longitudes e latitudes, plenitudes, tudo se alvoroça num verso, a fila indiana de palavras que dariam voltas no quarteirão, em ordem alfabética só por conta de uma certa palavra começar por "a"
sexta-feira, 18 de outubro de 2019
pedalar
vontade de pedalar às três da matina e indagar a Lua quanto a teus cachos, se noite de Lua, se nessa vida tu veio de cachos
quinta-feira, 17 de outubro de 2019
As Ensinanças da Dúvida - Thiago de Mello
Tive um chão (mas já faz tempo)
todo feito de certezas
tão duras como lajedos.
Agora (o tempo é que fez)
tenho um caminho de barro
umedecido de dúvidas.
Mas nele (devagar vou)
me cresce funda a certeza
de que vale a pena o amor.
Thiago de Mello
todo feito de certezas
tão duras como lajedos.
Agora (o tempo é que fez)
tenho um caminho de barro
umedecido de dúvidas.
Mas nele (devagar vou)
me cresce funda a certeza
de que vale a pena o amor.
Thiago de Mello
quarta-feira, 16 de outubro de 2019
terça-feira, 15 de outubro de 2019
segunda-feira, 14 de outubro de 2019
capa e contracapa
E eu escreveria um livro, só pra dizer, na contracapa, que, sem ti, a capa não voa, é só capa, menos que a toalha que, aos cinco anos, amarrava ao pescoço pra pular da janela e brincar de herói americano. Repare que, por lógica inversa, se um teu riso se apresenta e perpassa ali, a página, digamos, de número, vamos imaginar, 30, já bate um vento que tira um tantinho da capa do chão, que faz a palavra querer saltar, fazer pirueta, salto mortal, e ressuscitar nos teus lábios, em forma de fênix, eita, que a palavra é fogo, consome e se faz consumir, traz o dom de Prometeu, e desvela que as outras 29 páginas eram só prefácio pra tal página 30.
domingo, 13 de outubro de 2019
Bernardo Soares
"Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se-me quando, abrindo a janela para dentro de mim pude esquecer-me na visão do seu movimento."
Bernardo Soares
sexta-feira, 11 de outubro de 2019
quinta-feira, 10 de outubro de 2019
caqui
como um caqui
te morder
olhos fechados
de fazer barulho
com a mordida
matar a fome
e desejar a eternidade
te morder
olhos fechados
de fazer barulho
com a mordida
matar a fome
e desejar a eternidade
quarta-feira, 9 de outubro de 2019
Camus
"Qui ne donne rien n'a rien. Le plus grand malheur n'est pas de ne pas être aimé mais de ne pas aimer".
---- Albert Camus, Carnets III (1951-1959)
---- Albert Camus, Carnets III (1951-1959)
terça-feira, 8 de outubro de 2019
segunda-feira, 7 de outubro de 2019
Saudade - Guimarães Rosa
Saudade de tudo!…
Saudade, essencial e orgânica,
de horas passadas,
que eu podia viver e não vivi!…
Saudade de gente que não conheço,
de amigos nascidos noutras terras,
de almas órfãs e irmãs,
de minha gente dispersa,
que talvez até hoje ainda espere por mim…
Saudade triste do passado,
saudade gloriosa do futuro,
saudade de todos os presentes
vividos fora de mim!…
Pressa!…
Ânsia voraz de me fazer em muitos,
fome angustiosa da fusão de tudo
sede da volta final
da grande experiência:
uma só alma em um só corpo,
uma só alma-corpo,
um só,
um!…
Como quem fecha numa gota
o Oceano
afogado no fundo de si mesmo…
– João Guimarães Rosa, do livro “Magma”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 132.
Saudade, essencial e orgânica,
de horas passadas,
que eu podia viver e não vivi!…
Saudade de gente que não conheço,
de amigos nascidos noutras terras,
de almas órfãs e irmãs,
de minha gente dispersa,
que talvez até hoje ainda espere por mim…
Saudade triste do passado,
saudade gloriosa do futuro,
saudade de todos os presentes
vividos fora de mim!…
Pressa!…
Ânsia voraz de me fazer em muitos,
fome angustiosa da fusão de tudo
sede da volta final
da grande experiência:
uma só alma em um só corpo,
uma só alma-corpo,
um só,
um!…
Como quem fecha numa gota
o Oceano
afogado no fundo de si mesmo…
– João Guimarães Rosa, do livro “Magma”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 132.
domingo, 6 de outubro de 2019
dez
Desacato,
dez casas no joguinho da vida,
cato palavras e jogo dados
descalabro,
calo não,
mão de calo,
de palavrar com a mão,
descarado,
cara,
uma estrela por tuas bochechas
dez casas no joguinho da vida,
cato palavras e jogo dados
descalabro,
calo não,
mão de calo,
de palavrar com a mão,
descarado,
cara,
uma estrela por tuas bochechas
Orapronobis - Waly Salomão
(Tira-teima da cidadezinha de Tiradentes)
Café coado.
Cafungo minha dose diária de MURILO e DRUMMOND.
Lápis de ponta fina.
Lá detrás daquela serra
Estamparam um desenho de TARSILA na paisagem.
Menino que pega ovo no ninho de seriema.
Pessoas sentadas nos bancos de calcário
Dão a vida por um dedo de prosa.
Cada vereador deposita na mesa da câmara
A grosa de pássaros-pretos que conseguiu matar
Árdua labuta pra hoje em dia
Pois quase já não há
Pássaros-pretos no lugar.
De tarde gritaria das maritacas
Encobre o piano arpejando o Noturno de CHOPIN.
Bêbado escornado no banco da praça.
Orlando Curió cisma um rabo de sereia do mar debuxado
no lombo do seu cavalo.
A meia-lua
E a estrela preta
De oito pontas
Do teto da igreja
Do Rosário dos Pretos.
Que luz desponta
Da meia-lua
E que centelha
Da estrela preta de oito pontas
Do teto
Da igreja do Rosário dos Pretos?
Pra quem aponta
A luz da meia-lua
E pra quem cintila
Preta de oito pontas
A estrela desenhada no teto
Da igreja do Rosário dos Pretos?
̻ ̻ ̻
Café coado.
Cafungo minha dose diária de MURILO e DRUMMOND.
Lápis de ponta fina.
Lá detrás daquela serra
Estamparam um desenho de TARSILA na paisagem.
Menino que pega ovo no ninho de seriema.
Pessoas sentadas nos bancos de calcário
Dão a vida por um dedo de prosa.
Cada vereador deposita na mesa da câmara
A grosa de pássaros-pretos que conseguiu matar
Árdua labuta pra hoje em dia
Pois quase já não há
Pássaros-pretos no lugar.
De tarde gritaria das maritacas
Encobre o piano arpejando o Noturno de CHOPIN.
Bêbado escornado no banco da praça.
Orlando Curió cisma um rabo de sereia do mar debuxado
no lombo do seu cavalo.
A meia-lua
E a estrela preta
De oito pontas
Do teto da igreja
Do Rosário dos Pretos.
Que luz desponta
Da meia-lua
E que centelha
Da estrela preta de oito pontas
Do teto
Da igreja do Rosário dos Pretos?
Pra quem aponta
A luz da meia-lua
E pra quem cintila
Preta de oito pontas
A estrela desenhada no teto
Da igreja do Rosário dos Pretos?
̻ ̻ ̻
Waly Salomão
sábado, 5 de outubro de 2019
sexta-feira, 4 de outubro de 2019
olhos de esperança
a esperança era um tipo grilo, saltava pra longe quando se lhe estendiam o braço... e a esperança tinha uns tais olhos castanhos, de fazer a manhã corar, de fazer o espelho puxar papo, de fazer o sapo, em vez de príncipe, almejar virar poeta, de fazer a coruja virar e revirar a cabeça, de fazer jerimum se transformar em tapete voador, de transformar um dia cinza em um belo pôr-do-Sol...
quinta-feira, 3 de outubro de 2019
Esperança, café e poesia
"Você merece um amante que tira as mentiras e lhe traz esperança, café e poesia." (Frida Kahlo)
quarta-feira, 2 de outubro de 2019
som e caos
ao som e ao caos, caso de acaso, trilha dos Smiths, o mundo é o gato do Gargamel, mas tu é minha smurfette, e eu azul de inveja desse teu vestido...
terça-feira, 1 de outubro de 2019
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