E dia desses comprei um desses bom-bons artesanais, com chocolate que namora o cacau, e de um cupuaçu que prometia ser nascido e criado no quintal de Dona Joana, banhado a noites de Lua e cantado em poemas de amor... pois bem, a graça da tal guloseima era imaginar te contar uma história mirabolante que desbocasse no tal bom-bom como um presente, só pra pedir também uma mordiscadinha... e talvez o doce nem fosse essa coisa toda, e as linhas escritas que o acompanhariam tropeçassem n'alguma vírgula impiedosa, mas a tal mordiscadinha era dessas coisas que a gente leva pra vida.
quinta-feira, 30 de abril de 2020
quarta-feira, 29 de abril de 2020
What She Could Not Tell Him by Denise Levertov
I wanted
to know all the bones of your spine, all
the pores of your skin,
tendrils of body hair.
To let
all of my skin, my hands,
ankles, shoulders, breasts,
even my shadow,
be forever imprinted
with whatever of you
is forever unknown to me.
To cradle your sleep.
to know all the bones of your spine, all
the pores of your skin,
tendrils of body hair.
To let
all of my skin, my hands,
ankles, shoulders, breasts,
even my shadow,
be forever imprinted
with whatever of you
is forever unknown to me.
To cradle your sleep.
What She Could Not Tell Him
by Denise Levertov
by Denise Levertov
terça-feira, 28 de abril de 2020
Palmos e planos
Dos palmos que conto, mundo medido por mãos que tateiam buscando tuas sobrancelhas, dos contos que meço a palmos, contos que medem a distância até teu nariz, contas que dizem da palma da tua mão e compõe o plano, de alcançar, esticando os dedos, plenos de tua ausência, a altura de teus calcanhares, via planos de Cebolinha
segunda-feira, 27 de abril de 2020
domingo, 26 de abril de 2020
cachimbo
Hoje é domingo
pede cachimbo
pé-de-cachimbo
pede é teu teus cachos
pede é teu pé
e desejo é valente
bate que bate
feito pirulito
feito coração
cair é saltar
e o buraco é o mundo
pede cachimbo
pé-de-cachimbo
pede é teu teus cachos
pede é teu pé
e desejo é valente
bate que bate
feito pirulito
feito coração
cair é saltar
e o buraco é o mundo
sábado, 25 de abril de 2020
sexta-feira, 24 de abril de 2020
sobre trombetas e sussurros
A grande peste espreita do lado de fora
a trupe de senhores engravatados desavisa aos descamisados
e aos de camisa
os tratados de política em minha estante são fileiras de origami
eu dobraria as esquinas do mundo por um vislumbre da manga da tua camisa
e chuparia a tal manga
em tempos de trilha sonora de frigideira
de trombetas das inúmeras bestas
eu sussurraria ao teu ouvido um poema de Neruda
pudesse eu alcançar a barra da tua saia
a trupe de senhores engravatados desavisa aos descamisados
e aos de camisa
os tratados de política em minha estante são fileiras de origami
eu dobraria as esquinas do mundo por um vislumbre da manga da tua camisa
e chuparia a tal manga
em tempos de trilha sonora de frigideira
de trombetas das inúmeras bestas
eu sussurraria ao teu ouvido um poema de Neruda
pudesse eu alcançar a barra da tua saia
quinta-feira, 23 de abril de 2020
quarta-feira, 22 de abril de 2020
Galeano
“Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.”
Eduardo Galeano em "O livro dos abraços"
terça-feira, 21 de abril de 2020
Quero morder - Nicolas Behr
quero morder
tuas coxas
você deixa?
deito
Nicolas Behr - em "meio seio" (2012)
tuas coxas
você deixa?
deito
Nicolas Behr - em "meio seio" (2012)
gosto tanto dela assim
Tem canto que o céu é maior que outros, parece que extrapola o "cima" e te abraça pelas estribeiras, parece um céu sem beira, mar de cabeça pra baixo, que te pega desprevenido, com quatro estações em um dia... e, falando em dia, hoje é dia desse tal canto, que encanta um tanto.
segunda-feira, 20 de abril de 2020
domingo, 19 de abril de 2020
tabuada
e, lá pelo milésimo verso, me ocorreu que a conta não fechava, que minha matemática básica não dava conta do número de vezes em que me perdi no labirinto quimérico das voltas de teu cabelo, e voltava sempre ao beabá de rabiscar cartas ridículas com a cor de teu batom, só pra ler baixinho e torcer pra que cada palavra impregnasse meu hálito, meu hábito, meus devaneios de um fim de domingo semi-apocalíptico
sábado, 18 de abril de 2020
Por mais...
Por mais dias em que as horas carreguem letras coloridas com o horóscopo do teu signo, por mais horas em que teu signo paire sobre meu céu lilás, em augúrios de riso bobo, por mais estrofes que acolham confissões disfarçadas de idas à padaria ou abrir e fechar de geladeira, por mais poemas que busquem traduzir atabalhoadamente aquele breve instante que precede o duplo clique em uma "mp3" que carrega consigo horas e horas e horas de pensamentos sobre a natureza angelical de teus tornozelos...
sexta-feira, 17 de abril de 2020
quinta-feira, 16 de abril de 2020
A crazy world - Bukowski
“I told her, "Hang tight, baby, it's a crazy world." And that, as they say, was that.”
― Charles Bukowski
― Charles Bukowski
quarta-feira, 15 de abril de 2020
Hilda Hilst - Sobre poemas e explicações
"É triste explicar um poema. É inútil também. Um poema não se explica. É como um soco. E, se for perfeito, te alimenta para toda vida.Um soco certamente te acorda e, se for em cheio, faz cair tua máscara, essa frívola, repugnante, empolada máscara que tentamos manter para atrair ou assustar.
Se pelo menos um amante de poesia foi atingido e levantou de cara limpa depois de ler minhas abraseadas evidências líricas, escreva, apenas isso : fui atingindo. Porque há de ser festa aquilo que na Terra me pareceu exílio: o ofício do poeta."
— Hilda Hilst
Não-coisa - Ferreira Gullar
O que o poeta quer dizer
no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.
Uma fruta uma flor
um odor que relume...
Como dizer o sabor,
seu clarão seu perfume?
Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa
e que não tem sentido?
A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes
só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa
de saliva e papilas
invadindo-te inteiro
tal do mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,
um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,
vertiginoso e pleno
como são os orgasmos
No entanto, o poeta
desafia o impossível
e tenta no poema
dizer o indizível:
subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisa
sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa ë fechada
à humana consciência.
O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.
Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,
a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.
no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.
Uma fruta uma flor
um odor que relume...
Como dizer o sabor,
seu clarão seu perfume?
Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa
e que não tem sentido?
A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes
só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa
de saliva e papilas
invadindo-te inteiro
tal do mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,
um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,
vertiginoso e pleno
como são os orgasmos
No entanto, o poeta
desafia o impossível
e tenta no poema
dizer o indizível:
subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisa
sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa ë fechada
à humana consciência.
O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.
Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,
a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.
Ferreira Gullar
Poema extraído dos “Cadernos de Literatura Brasileira”, editados pelo Instituto Moreira Salles — São Paulo, nº 6, setembro de 1998, pág. 77.
Poema extraído dos “Cadernos de Literatura Brasileira”, editados pelo Instituto Moreira Salles — São Paulo, nº 6, setembro de 1998, pág. 77.
terça-feira, 14 de abril de 2020
céu de cartão-postal
Reza a lenda que o céu da capital enrubesce é por pousar os olhos sobre o teu nariz.
segunda-feira, 13 de abril de 2020
domingo, 12 de abril de 2020
sábado, 11 de abril de 2020
invejinha
Por vezes invejo um tantinho a língua inglesa, só por ela possuir palavras distintas pra dedos das mãos e dos pés... poderia eu, então, adorar teus dedos com mais precisão. Mas temos a palavra mindinho...
sexta-feira, 10 de abril de 2020
quinta-feira, 9 de abril de 2020
Trancafiado
Trancafiado
escrevo teu nome no teto
nas paredes
invento apelidos
eu subo pelas paredes
escalo cada consoante
me agarro a cada vogal
escrevo teu nome no teto
nas paredes
invento apelidos
eu subo pelas paredes
escalo cada consoante
me agarro a cada vogal
quarta-feira, 8 de abril de 2020
Gregório Duvivier
"Ao se deparar com a coisa mais bonita do mundo:
1. Certifique-se de que ela existe.
2. Observe-a minuciosamente. Pode ser que ela evapore.
3. Ouça a coisa mais bonita do mundo.
4. Deite a coisa mais bonita do mundo sobre a superfície mais confortável do mundo.
5. Ame-a imensamente”.
1. Certifique-se de que ela existe.
2. Observe-a minuciosamente. Pode ser que ela evapore.
3. Ouça a coisa mais bonita do mundo.
4. Deite a coisa mais bonita do mundo sobre a superfície mais confortável do mundo.
5. Ame-a imensamente”.
Gregório Duvivier
terça-feira, 7 de abril de 2020
Super Lua
que sucede se acontece de eu topar com teu pé em noite de super Lua? reza a lenda que, em noites como essa, ela, a Lua, fica rosa, em homenagem a tuas bochechas, e ilumina meus sonhos cor de jardim
segunda-feira, 6 de abril de 2020
domingo, 5 de abril de 2020
sábado, 4 de abril de 2020
Arremedo de cantada
Você é mais bonita que o céu no entardecer de Brasília
você é mais bonita que um pão de queijo que acabou de sair do forno
você é mais bonita que o São Paulo de Telê Santana
ganhando do Barcelona e do Milan
mais bonita que um livro novo
que um achado raro em um sebo
e quase tão bonita quanto um poema de Ferreira Gullar
você é mais bonita que um pão de queijo que acabou de sair do forno
você é mais bonita que o São Paulo de Telê Santana
ganhando do Barcelona e do Milan
mais bonita que um livro novo
que um achado raro em um sebo
e quase tão bonita quanto um poema de Ferreira Gullar
sexta-feira, 3 de abril de 2020
quinta-feira, 2 de abril de 2020
do céu...
de um milhão de palavras, da anatomia curiosa de meus desejos, da salada de frutas, do Sol de abril, de minha sorridente adoração por teus joelhos, dos sons que se escuta ao longe de olhos fechados, dos convites para dançar que te aguardam enfileirados no canto da minha caixola que é responsável por tentar evitar que eu passe vergonhas homéricas, das dicas de filme que são na verdade uma desculpa pra puxar assunto, do céu da capital, do céu...
quarta-feira, 1 de abril de 2020
jardim
Cultivo teu jardim em meus pensamentos, cada rosa de teu cabelo, seja que nome tiver, até que se chame amor...
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