Escrevo na borda de cada dia. Escrevo do fundo daquele troço que nasce na boca do estômago. Que é isso? São borboletas? "Guts"? (Aqui imagino um Bukowski me dizendo "write with your guts, son") Não sei bem o que é... Sei que dá a sensação de estar vivo. Em meio a tantos dias cinzas, parece uma pincelada de céu azul, quiça com umas pitadas do laranja do poente. E é estranho buscar esse mecanismo invisível que conecta uma palavra à outra e cada uma delas e o todo a certo alguém. Isso existe? Esse caminho desenhado no chão que leva ao céu. Esse fio que atravessa o labirinto. Sei que vem de dentro e afeta a respiração. Sei que é a continuação de pensar os dedos, as unhas, os dentes de um alguém. E existe dia? Existe ano? A terra gira e as palavras brincam de fazer roda, concedem sentido a uma data. Emancipam-se, por vez, da boca, ganham o papel e o pensamento, a tela. Mas voltam, por ventura, aos lábios, à língua e, pronunciadas, se realizam. E há um quê de fantástico nisso. A palavra dita, sussurrada, projetada, mesmo que sem som, por lábios que a embalam com carinho, desejo, quiçá. Lábios desejados que pronunciam palavras com desejo. É um desejo em si mesmo, mas é também um ciclo que se realiza. Palavras, em diversas culturas, guardam poder. Constroem mundos e dão poderes a estrelas que singram os céus. Busco, pois, palavras que procurem significar essa ideia de quase explodir de bem-querer ao pensar alguém. E pensar em ano, como símbolo, como dia, e dia que se projeta à frente, feito palavra, nomeado tempo. Pensar desejo que se apressa e corre na frente, pra encontrar (esbaforido, mãos nos joelhos, sorriso estampado) um rosto almejado. Talvez desejar feliz ano novo possa ser isso.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
domingo, 30 de dezembro de 2018
sábado, 29 de dezembro de 2018
Dança
Te danço em salsa cubana, tento um baião, de dois, por certo, sob o risco de pisar teu pezinho, pisar em nuvem, também, saltar meio-fio, meio bobo, bolero, e meu lero que busca teu lero, conversa que passeia, um passo pra cá e dois pra lá, lambada? lambda, alfa, beta, eu bestinha com tua cintura...
sexta-feira, 28 de dezembro de 2018
Canto
E por qual canto da tua alma eu me encanto?
Será voz?
E eu só verso
Será quina?
Eu esquina
Será rosa?
Eu sorriso
Será voz?
E eu só verso
Será quina?
Eu esquina
Será rosa?
Eu sorriso
quinta-feira, 27 de dezembro de 2018
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
Tempos interessantes
Tempos interessantes... toda a informação do mundo a meus dispor. Em segundos descubro a fórmula química do ferro, tenho acesso à obra poética de Neruda, busco um conto de Poe... mas permaneço alheio ao rumo do teu passo, ignorante da dança que tua sombra projeta ao brincar com a luz... erro por ruas que o google maps acerta... mas não, todo o conhecimento do mundo não é capaz de captar as sutilezas. Que são calçadas para mim sem a tua presença? Alguns versos de Drummond são lidos e acompanhados de um certo rol de pensamentos. Álvaro de Campos é quem diz bem. "Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama", e esse mundo não está dado, carece de imaginação... e imagino tanto, que dá para preencher as reticências de cem vidas...
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
Noite de luzes
Em noite de luzes, busco o céu, o som do teu riso... mas se fosse te contar todos meus pensamentos, um anjo ia corar, por certo
domingo, 23 de dezembro de 2018
sábado, 22 de dezembro de 2018
Pão de queijo
E se, em um dos mundos possíveis, alguém, quiçá louco por pão de queijo, quiçá doido de suspirar, aceitasse trocar um pão de queijo quentinho, dourado, tentador igual poema de Drummond, por saber, assim, a cor do teu chinelo? Será que algum anjo, quiça torto, espiava assim tua janela só pra ganhar um manjar? Bom, se tal se dá, alguém dormiria feliz e, de uma hora pra outra, haveria congestionamento de anjo no céu de Minas.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
Olhos de Sol
teus olhos de Sol
e eu só de olho
bitucando
no bisu
nem piscava
caia era o queixo
que zóio é esses, Deus meu?
e eu só de olho
bitucando
no bisu
nem piscava
caia era o queixo
que zóio é esses, Deus meu?
quinta-feira, 20 de dezembro de 2018
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
De como se aborda o tempo
Gasto o tempo imaginando tua cintura. Mentira. A gente gasta tempo é em coisa que não gosta de fazer. No que dá arrepio a gente faz é investir o tempo. Brincar de desenhar com palavra. Quase que posso ver as palavras contornando tua cintura e te tirando pra dançar.
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
segunda-feira, 17 de dezembro de 2018
Mãos
Das horas e horas que sonho com tuas mãos, dos acasos que acalentas, do dom do tato, do mundo que um sentido guarda... guardo tantos sorrisos que disfarço dando bom dia pra tia da padaria, sonhando as pontas dos teus dedos, tecendo poemas que, como luvas, abraçariam tuas desejadas mãozinhas.
domingo, 16 de dezembro de 2018
Serendipity
Serendipity does not come from Latin or Greek, but rather was created by a British nobleman in the mid 1700s from an ancient Persian fairy tale. The meaning of the word, good luck in finding valuable things unintentionally, refers to the fairy tale characters who were always making discoveries through chance. You can thank serendipity if you find a pencil at an empty desk just as you walk into an exam and realize that you forgot yours.
sábado, 15 de dezembro de 2018
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
quinta-feira, 13 de dezembro de 2018
Profecia Maia
E dia desses descobri, por fortuito acaso, aqui no meu calendário Maia (guardo um ao lado do livro de Pessoa) uma profecia danada, que aponta que o Sol, esse arauto, há de transbordar do poema e encontrar teus pensamentos, e alinhá-los, meticulosamente, de tal modo que encontrem os meus, em uma dessas manhãs de Sol e chuva, até que o céu sorria e as horas disputem corrida.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
terça-feira, 11 de dezembro de 2018
Verso perdido. Recompensa-se.
Hoje de manhã perdi um verso. Tão bonitinho, criado a pão-de-ló. Mas o malandro vai e decide brincar de pique-esconde. Resta torcer pra que encontre teu caminho, mesmo distante do meu teclado. Se um dia desses, subitamente, te ocorrer um versinho maroto, que, não se sabe bem porque, decide soprar na tua orelha esquerda palavras de bem-querer, é o dito cujo. Favor tratá-lo com carinho e entregar em mãos. A recompensa é o poema do qual ele faz parte. E um beijo. Não, péra... o beijo é por minha conta mesmo.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
O amor - Maiakovski
Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
– Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo,
a mãe,
pelo menos a Terra.
Vladimir Maiakovski (1893-1930)
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
– Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo,
a mãe,
pelo menos a Terra.
Vladimir Maiakovski (1893-1930)
domingo, 9 de dezembro de 2018
sábado, 8 de dezembro de 2018
Repara
Repara na letra, menina, que a rima é mimosa, e fala de ti, soletra teu nome... repara, menina linda, que a letra é feitiço, sorri com teu riso, just like a spell...
sexta-feira, 7 de dezembro de 2018
quinta-feira, 6 de dezembro de 2018
Eternidade
Buscávamos a eternidade, na poesia, no romance, na pausa pro suspiro. Eu tateava, teimoso, nervoso, a fronteira que separa um adjetivo de tuas madeixas. Tu se perdia em histórias que confundem meus sentidos. E eu sentia um tanto. Quase apanhava no ar o aroma das tuas bochechas cor de ameixa. Tu era chá e eu café. Café, café, café, até acordar Odin e preparar um Ragnarok antes das oito. A essa altura eu sabia pouco de tuas perdições, mas eu me perdia antes de cada vírgula, e demorava um bom bocado antes de encontrar a outra margem. Sempre tive essa paixão pela margem, desde Wittegenstein, que buscava evitá-las, eu mirava cada palavra como seta que te encontrasse na margem. Era na margem que...
El Beso, Pablo Neruda
Te mando un beso con el viento
y sé que sientes,
te das la vuelta sin verme, pero yo estaré allí.
Estamos hechos de la misma materia
de los cuales están hechos los sueños
y sé que sientes,
te das la vuelta sin verme, pero yo estaré allí.
Estamos hechos de la misma materia
de los cuales están hechos los sueños
Me gustaría ser una nube blanca
en un cielo infinito
a seguir a todas partes y disfrutando cada momento.
Si eres un sueño no despertarme
Yo quiero vivir en tu aliento
Mientras te miro muero para ti
Su sueño se hará soñar conmigo
Te quiero porque te ves reflejado
en todo lo que es bello
Dime dónde estás esta noche
incluso en mis sueños?
Sentí una palmada en la cara
llegar al corazón
Me gustaría llegar al cielo
y con los rayos del sol para escribir Te amo
Me gustaría que el viento soplaba cada día
a través de tu pelo,
con el fin de escuchar de lejos
tu olor!
Me gustaría hacer contigo lo que
la primavera hace con los cerezos
(Pablo Neruda, El beso, 1924)
en un cielo infinito
a seguir a todas partes y disfrutando cada momento.
Si eres un sueño no despertarme
Yo quiero vivir en tu aliento
Mientras te miro muero para ti
Su sueño se hará soñar conmigo
Te quiero porque te ves reflejado
en todo lo que es bello
Dime dónde estás esta noche
incluso en mis sueños?
Sentí una palmada en la cara
llegar al corazón
Me gustaría llegar al cielo
y con los rayos del sol para escribir Te amo
Me gustaría que el viento soplaba cada día
a través de tu pelo,
con el fin de escuchar de lejos
tu olor!
Me gustaría hacer contigo lo que
la primavera hace con los cerezos
(Pablo Neruda, El beso, 1924)
quarta-feira, 5 de dezembro de 2018
terça-feira, 4 de dezembro de 2018
"Coração sobre cama”, de Laura Liuzzi
Se de repente acordo
é madrugada
surpreende o coração
descansa sobre os lençóis
exausto
não tenho sede nem sono
e nem mais coração.
Se acordei e é madrugada
era pra ver você
que não está nesta cama.
Enquanto canto bem baixinho
os batimentos desaceleram
lentamente, quase imperceptível
até a voz sumir entre os lençóis.
Esperaremos a manhã
o coração e eu
e os jornais o carteiro as babás
colocarão as coisas no lugar:
o coração no peito
você à distância
os lençóis na lavanderia.
é madrugada
surpreende o coração
descansa sobre os lençóis
exausto
não tenho sede nem sono
e nem mais coração.
Se acordei e é madrugada
era pra ver você
que não está nesta cama.
Enquanto canto bem baixinho
os batimentos desaceleram
lentamente, quase imperceptível
até a voz sumir entre os lençóis.
Esperaremos a manhã
o coração e eu
e os jornais o carteiro as babás
colocarão as coisas no lugar:
o coração no peito
você à distância
os lençóis na lavanderia.
Já se viu?
já se viu? desenhar nome no ar, digo, da pessoa
estender os olhos pro infinito, já viu isso?
e pode abraçar a janela do bus?
ouvir e ouvir música no repeat, ouviu falar?
falar de amor em papel de pão. Papelão, né?
sonhar com pé, tem pé ou cabeça?
e suspirar a beça, já viu essa?
e rimar rima boba, é uma boa?
estender os olhos pro infinito, já viu isso?
e pode abraçar a janela do bus?
ouvir e ouvir música no repeat, ouviu falar?
falar de amor em papel de pão. Papelão, né?
sonhar com pé, tem pé ou cabeça?
e suspirar a beça, já viu essa?
e rimar rima boba, é uma boa?
segunda-feira, 3 de dezembro de 2018
domingo, 2 de dezembro de 2018
Aqueles cachos!
Aqueles cachos devem de ser, por certo, caminho em espiral, trilha pra trilha sonora,
ora,
aqueles cachos devem de ser, por óbvio, escadaria pro delírio, lírio pro poema, pena pra prosa
nossa!
devem de ser, aqueles cachos, prova dos nove, pr'eu me perguntar todo dia como podem uns cachos recitarem poesia.
ora,
aqueles cachos devem de ser, por óbvio, escadaria pro delírio, lírio pro poema, pena pra prosa
nossa!
devem de ser, aqueles cachos, prova dos nove, pr'eu me perguntar todo dia como podem uns cachos recitarem poesia.
sábado, 1 de dezembro de 2018
Les émotions - Baudelaire
" Les émotions les plus belles sont celles que tu ne sais pas expliquer. "
Charles Baudelaire
Charles Baudelaire
sexta-feira, 30 de novembro de 2018
Meu poema de Drummond
Meu poema de Drummond é tão bom que nem é mais meu.
Diz umas coisas que não consigo.
Consegue alcançar distâncias que minhas pernas ignoram.
Vai até páginas do dicionário que não enxergo.
Beija tua alma de um jeito que minhas palavras dão conta não.
Conta uns causos que me deixam perplexo.
Fala do teu sorriso de um modo que até me apaixono de novo.
E esse meu poema de Drummond, vai ver, é poema de Drummond que é meu.
Vai ver Drummond escreveu um poema só pra eu te enviar.
Vai ver o poeta de Itabira captou, atemporalmente, o brilho nos olhos de quando te imagino.
E imaginou um poema, que seria imaginado por mim enquanto te imagino.
Eita, esse tal poema de Drummond é porreta!
quinta-feira, 29 de novembro de 2018
quarta-feira, 28 de novembro de 2018
Folha A4
Folha A4
cabe não
transborda
derrama
extrapola
extra, extra
é jornal, já
seção cultural
horóscopo
teu signo
chinês o meu
mas também não
cabe não...
tempos digitais
ais por satélite
fibra ótica
óia, moça
coração na rede
mil casas, já
asas a mil
dicionários online
pra dar conta
busca no google
talón
aprendi dizer
espanhol
castelhano
teu calcanhar
o meu de aquiles
eita
tira um acento
talon
francês, já
é muita anatomia
coração guenta não
pede arrego
batida de trem
cabe não
transborda
derrama
extrapola
extra, extra
é jornal, já
seção cultural
horóscopo
teu signo
chinês o meu
mas também não
cabe não...
tempos digitais
ais por satélite
fibra ótica
óia, moça
coração na rede
mil casas, já
asas a mil
dicionários online
pra dar conta
busca no google
talón
aprendi dizer
espanhol
castelhano
teu calcanhar
o meu de aquiles
eita
tira um acento
talon
francês, já
é muita anatomia
coração guenta não
pede arrego
batida de trem
terça-feira, 27 de novembro de 2018
Sobre línguas!
E, vai ver, aprender um novo idioma é só desculpa pra descobrir novos meios de descrever cada uma das tuas sutilezas!
segunda-feira, 26 de novembro de 2018
domingo, 25 de novembro de 2018
Sorriso-Sol
Cabe um livro na mochila
cabe um verso
um desejo num domingo chuvoso
cabe o Sol num sorriso
cabe até um palavrão, de leve
espanto!
pode um sorriso desses?
cabe no peito, digo, o coração?
cabe não
extrapola
pula, pulula
passeia, sem guarda-chuva
guarda é o mundo
salta poça d'água
salta tempo e espaço
por um sorriso-Sol
cabe um verso
um desejo num domingo chuvoso
cabe o Sol num sorriso
cabe até um palavrão, de leve
espanto!
pode um sorriso desses?
cabe no peito, digo, o coração?
cabe não
extrapola
pula, pulula
passeia, sem guarda-chuva
guarda é o mundo
salta poça d'água
salta tempo e espaço
por um sorriso-Sol
Viajar? Para viajar basta existir.
Bernardo Soares
Viajar? Para viajar basta existir.
L. do D.
Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
«Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo.» Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o princípio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens têm paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como às outras. Para quê viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e género das minhas sensações?
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.
s.d.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.
- 387.
"Fase confessional", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol II. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.
sábado, 24 de novembro de 2018
sexta-feira, 23 de novembro de 2018
Três da tarde
Às três da tarde, erijo monumentos a teu dedo mindinho, meço a distância até a sorveteria e preencho esse espaço com poemas de cupuaçu, siriguela e imbu, poemas sobre tu, sobretudo sobre a sombra da tua mão...
quinta-feira, 22 de novembro de 2018
quarta-feira, 21 de novembro de 2018
O verso e o labirinto
Donde surge a obsessão pelo verso perfeito que te arrebate e te arranque um meio-centímetro que seja do chão? Em que pé e cabeça se sustenta o desejo constante de que teu pé paire um tantinho no ar e de que tua cabeça delire um meio-segundo quando teus intensos olhos dançarem sobre o tal verso? E aí cortejar o verso é dar continuidade a esse esforço diário de emprestar cores a um cotidiano tantas vezes cinza. Oferecer o verso é tomar emprestado um giz de cera e pintar a borda da folha. Escolher uma palavra é a súplica de que ela se vista de minhas intenções, de que não se desvio no caminho e não compartilhe do meu ar de bobo ao enxergar tuas bochechas. Como ela te chega, se te chega,e como a recebe, se recebe, é esse emaranhado de linhas que busca atravessar o labirinto. A esperança de que o verso seja o fio de Ariadne. Ou as asas de cera, efêmeras, que permitam sobrevoar o labirinto. Mas tu é Sol, e eu fascinado...
terça-feira, 20 de novembro de 2018
Pronomes possessivos
Em algum momento os pronomes possessivos se misturaram, e eu já não sabia se o verso era meu, por emprestar os dedos ao teclado, se era teu, como destinatária quiçá involuntária, se era eu quem pertencia ao verso, como vassalo e instrumento da Vontade da Palavra ou até se tu era refém do verso, e o resgate era o próprio verso a ser escrito... eita, esse último ficou confuso!
segunda-feira, 19 de novembro de 2018
Vocabulário
Contorno o pragmatismo reinante em quatro cantos, prefiro o contorno de teus tornozelos, teu zelo pelas palavras, palavra, torno meu reino em cavalo, Rocinante, e tu, Dulcineia já, passeia por meu vocabulário....
Vocabulário--> voca --> boca
Pronto, achei um caminho.
Vocabulário--> voca --> boca
Pronto, achei um caminho.
domingo, 18 de novembro de 2018
sábado, 17 de novembro de 2018
sexta-feira, 16 de novembro de 2018
Tu
Gosto de "tu"
palavra íntima
pequena
singela
que arrasta pra perto
e diz tanto...
no tom certo, parece elogio
"ei, tu"
gosto de tu
carrega carinho
parece convite pra dizer mais
soa como um abraço
une consoante e vogal
é quase um convite prum café
poema de uma só sílaba
palavra íntima
pequena
singela
que arrasta pra perto
e diz tanto...
no tom certo, parece elogio
"ei, tu"
gosto de tu
carrega carinho
parece convite pra dizer mais
soa como um abraço
une consoante e vogal
é quase um convite prum café
poema de uma só sílaba
quinta-feira, 15 de novembro de 2018
quarta-feira, 14 de novembro de 2018
Panapanã
e redijo, verso e prosa, coisas de céu da boca
e redigo , valsa e volta, bocas de céu, ô coisa...
trem no estômago
cabe já um tantão de borboleta
panapanã
descobri o coletivo
trem é esse?
sentado no bus
passeio meu pensamento
bichin
por teu colo
teu colorir
e redigo , valsa e volta, bocas de céu, ô coisa...
trem no estômago
cabe já um tantão de borboleta
panapanã
descobri o coletivo
trem é esse?
sentado no bus
passeio meu pensamento
bichin
por teu colo
teu colorir
terça-feira, 13 de novembro de 2018
segunda-feira, 12 de novembro de 2018
Breve
Por um breve momento, condenso palavras em uma garrafa de água com gás, por um breve momento, confiro se meu horóscopo de hoje bate com o teu, por uma breve eternidade, articulo romances em Arial 12 com teu nome escondido em cada uma das linhas, pelo tempo de um café, suspiro trinta e nove vezes e faço da borra um poema, pelo tempo de um suspiro, entrelaço reticências e sonho de olhos fechados teu busto...
domingo, 11 de novembro de 2018
sábado, 10 de novembro de 2018
sexta-feira, 9 de novembro de 2018
Prece-poema
No subsolo da biblioteca, eu labuto o texto. Sob centenas, milhares de livros, eu busco o acaso do encontro com a palavra. Almejar é tudo o que me é permitido fazer. Ansiar pelo toque suave de uma proparoxítona que seja brisa e dance ao luar, enquanto emula teus calcanhares. Ou o assombro tonitroante de algum substantivo, imponente, desvelador de verdades que a alma busca disfarçar. As palavras valsam sobre a minha cabeça e contam casos de amor e solidão, deslizam até o bebedouro e são, já, fonte natural de tudo o que existe, chovem, ignorando o teto que me abriga, e encharcam a tela do computador com o esboço de uma prece-poema.
quinta-feira, 8 de novembro de 2018
quarta-feira, 7 de novembro de 2018
terça-feira, 6 de novembro de 2018
Cœurs brûlants
"Notre monde n’a pas besoin d’âmes tièdes. Il a besoin de cœurs brûlants".
---- Albert Camus, Combat (éditorial du 26 décembre 1944)
segunda-feira, 5 de novembro de 2018
domingo, 4 de novembro de 2018
sábado, 3 de novembro de 2018
Exagerado²
Te endereço mil poemas
anteontem
envelopo o coração
cai o céu
conjuro nuvem de algodão doce
juro versos de Quintana
dou Bandeira
faço outra menção às tuas panturrilhas
pudesse, fazia um quadro
um poema
copiava Maiakovski
mandava imprimir
10 mil cópias
um suspiro
aprendia francês
pra ter verso de Rimbaud
misturado na receita
no percurso
no translado
e eu do lado
das palavras
dos versinhos
me esgueirando em cada linha
espiando teus acasos
rimando
minhas reticências
com teus cachos
anteontem
envelopo o coração
cai o céu
conjuro nuvem de algodão doce
juro versos de Quintana
dou Bandeira
faço outra menção às tuas panturrilhas
pudesse, fazia um quadro
um poema
copiava Maiakovski
mandava imprimir
10 mil cópias
um suspiro
aprendia francês
pra ter verso de Rimbaud
misturado na receita
no percurso
no translado
e eu do lado
das palavras
dos versinhos
me esgueirando em cada linha
espiando teus acasos
rimando
minhas reticências
com teus cachos
sexta-feira, 2 de novembro de 2018
quinta-feira, 1 de novembro de 2018
Drops de menta
Vai, semeia verso, e colhe, pois, poesia, sussurra ao céu palavras de sono e sonho... e desliga o despertador!
quarta-feira, 31 de outubro de 2018
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