E se fosse o último dia do ano? E se eu te dissesse dos pensamentos que atravessam os outros dias (e mais esse) buscando teus cotovelos? E se eu apagasse as luzes e dançasse como se tua sombra me acompanhasse? E se a música te alcançasse? E se o verso te alcançasse, trajado de branco e de sonhos de réveillon? E se esses versos giram em torno de ti?
terça-feira, 31 de dezembro de 2019
segunda-feira, 30 de dezembro de 2019
domingo, 29 de dezembro de 2019
DE JOELHOS - Florbela Espanca
"Bendita seja a Mãe que te gerou.
Bendito o leite que te fez crescer
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!
Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer ...
Bendita seja a Lua, que inundou
De luz, a Terra, só para te ver ...
Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão fervente e louca!
E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa boca!!"
Florbela Espanca, em "Livro de Mágoas"
Bendito o leite que te fez crescer
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!
Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer ...
Bendita seja a Lua, que inundou
De luz, a Terra, só para te ver ...
Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão fervente e louca!
E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa boca!!"
Florbela Espanca, em "Livro de Mágoas"
sábado, 28 de dezembro de 2019
Por ventura
Até que não haja um único grão de areia, grão-duque, grão-de-bico ou átomo que não saiba do meu bem-querer por teu nariz, nesse universo e no verso que não seja uni, por ventura.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2019
Três vezes
Meu sonho
de conta-gotas
te pinga
no meu olho esquerdo
três vezes por noite
por recomendação de meu anjo da guarda
que guarda um retrato teu pra ele também
de conta-gotas
te pinga
no meu olho esquerdo
três vezes por noite
por recomendação de meu anjo da guarda
que guarda um retrato teu pra ele também
Adélia Prado - Sedução
"A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela."
Adélia Prado
Do livro Bagagem
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela."
Adélia Prado
Do livro Bagagem
quinta-feira, 26 de dezembro de 2019
quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
terça-feira, 24 de dezembro de 2019
Noite e sonho e esquinas e tu.
Em que noite te encontro na esquina do meu sonho, se te sonho toda noite, e se a noite é meu sonho de tu, vestida de sonho, despida de noite, desperta, dormindo, sonhando que é noite, de dia, dia sim e dia também, também, assim, te sonhando acordado, de dia e de noite, em esquinas reais, e plebeias também.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2019
domingo, 22 de dezembro de 2019
sábado, 21 de dezembro de 2019
to touch a December
I want to touch your hair
and paint the sky in colors of heaven
I wouldn't mind touching a poem
as long as it was about you
I want to draw your shadow
and the Sun that projects it
and I certainly would love to write a December with the letters of your favorite song
and paint the sky in colors of heaven
I wouldn't mind touching a poem
as long as it was about you
I want to draw your shadow
and the Sun that projects it
and I certainly would love to write a December with the letters of your favorite song
sexta-feira, 20 de dezembro de 2019
Esperando por acontecer
há um poema esperando por acontecer
na parada de ônibus
no teto do consultório do dentista
na avenida congestionada
no peito congestionado
nas saudades sem fim
na playlist melancólica
nas nuvens carregadas
no vento na janela do restaurante
no beijo guardado
no guarda-roupas
atrás da porta
na janela do navegador
na parada de ônibus
no teto do consultório do dentista
na avenida congestionada
no peito congestionado
nas saudades sem fim
na playlist melancólica
nas nuvens carregadas
no vento na janela do restaurante
no beijo guardado
no guarda-roupas
atrás da porta
na janela do navegador
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
COQUEIRAL - Matilde Campilho
"A saudade é um batimento que rebenta assim
vinte e oito vezes desde meu ombro tatuado
de desastre até à rosa pendurada em sua boca
E o amor, neste caso específico, é um mergulho
destemido que deriva quase sempre de uma nota
climática apenas para convergir no osso frontal
do crânio do rei da ilusão—terno é o seu rosto
Senhor, os ossinhos do mundo são de mel e ouro."
vinte e oito vezes desde meu ombro tatuado
de desastre até à rosa pendurada em sua boca
E o amor, neste caso específico, é um mergulho
destemido que deriva quase sempre de uma nota
climática apenas para convergir no osso frontal
do crânio do rei da ilusão—terno é o seu rosto
Senhor, os ossinhos do mundo são de mel e ouro."
Matilde Campilho
terça-feira, 17 de dezembro de 2019
bule
Intuo que tua cintura me faz ebulir
bulir um tantinho
passo e meio
bule
e eu quase que fervo o café
pra passar
passa aqui
que na minha rua tem um pôr-do-Sol porreta
apronto já um verso
bulir um tantinho
passo e meio
bule
e eu quase que fervo o café
pra passar
passa aqui
que na minha rua tem um pôr-do-Sol porreta
apronto já um verso
segunda-feira, 16 de dezembro de 2019
domingo, 15 de dezembro de 2019
Onde?
Onde está Vênus no céu de dezembro? Em que quadrante eu pinto um quadro com as cores do teu signo? Por que vogais me apaixono só por fequentarem teu sobrenome? Em que poço atiro moedas só pra desejar um café em tua companhia?
sábado, 14 de dezembro de 2019
Eu também
Hoje choveu verso no meu quintal, distrital, federal, inundaram-se as ruas sem esquinas, ultrapassou o meio-fio, palavra e mais palavra, e eu ali me perguntando se alcançava tua cintura, eu medindo quando é que batia no teu joelho, eu me indagando em que dia de dezembro um versinho daria de cara com teu nariz, e o céu se abriria, e palavra e palavra, e dilúvio, e até a barca para a qual te convidaria era, ela própria, uma palavra grandona. E as ruas despejavam poesia. E verso atrás de verso fazia fila pra te pedir um autógrafo. E eu também.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2019
quinta-feira, 12 de dezembro de 2019
quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
Seriguela
Cada palavra e seriguela num pote, e, entre a amarela e a vermelhinha, escolho a que me remete a tuas bochechas.
terça-feira, 10 de dezembro de 2019
segunda-feira, 9 de dezembro de 2019
domingo, 8 de dezembro de 2019
sábado, 7 de dezembro de 2019
Caderno
De meu caderno surrado salta um poema, teu aroma de capim-limão, romã, a história do romance na cultura ocidental que anotei n'alguma aula, e os rabiscos que um dia sonharam tatear tua face... meu depósito de suspiros travestidos de reticências...
sexta-feira, 6 de dezembro de 2019
quinta-feira, 5 de dezembro de 2019
quarta-feira, 4 de dezembro de 2019
Amar você é coisa de minutos… - Leminski
"Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui"
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui"
Leminski
Sobre paredes e horizontes
As paredes do meu prédio já decoraram as músicas da Adriana Calcanhotto de tanto eu ouvi-las de olhos fechados e pensando teus calcanhares. E cada vizinho cantarola inconscientemente Cazuza no elevador, evocando minhas tardes de sábado. E as janelas já arremedam o horizonte, de tanto acompanharem a busca de meus olhos por tua silhueta.
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
Trampolim
Faço da ponta do ponteiro do minuto um trampolim
E me atiro no sonho
Faço da hora um poema
E sonho a palavra
Palavra feita tua perna
Tua perna feita palavra
Caminha o mundo
Escreve caminho
E me atiro no sonho
Faço da hora um poema
E sonho a palavra
Palavra feita tua perna
Tua perna feita palavra
Caminha o mundo
Escreve caminho
domingo, 1 de dezembro de 2019
sábado, 30 de novembro de 2019
sexta-feira, 29 de novembro de 2019
A noite em que sonhei que era Carlos Drummond de Andrade
Na noite em que sonhei que era Carlos Drummond de Andrade,
tuas nádegas povoavam meu sonho,
como palavras que se realizam...
e as repartições públicas exalavam poesia
em um país que já não gosta de funcionários públicos
em um país de notícias de jornal
Na noite em que sonhei que era Carlos Drummond de Andrade,
as horas se contorciam como ginastas
as notícias se contorciam como ginastas
os bois voavam pra China
e tuas nádegas habitavam meus olhos de Carlos Drummond de Andrade
tuas nádegas povoavam meu sonho,
como palavras que se realizam...
e as repartições públicas exalavam poesia
em um país que já não gosta de funcionários públicos
em um país de notícias de jornal
Na noite em que sonhei que era Carlos Drummond de Andrade,
as horas se contorciam como ginastas
as notícias se contorciam como ginastas
os bois voavam pra China
e tuas nádegas habitavam meus olhos de Carlos Drummond de Andrade
A noite dissolve os homens - Carlos Drummond de Andrade
A noite
desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda, sem esperança...
Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho na noite.
A noite é mortal, completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!
nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.
Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio...
Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.
(Poema da obra Sentimento do mundo), de Carlos Drummond de Andrade
desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda, sem esperança...
Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho na noite.
A noite é mortal, completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!
nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.
Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio...
Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.
quinta-feira, 28 de novembro de 2019
Fumo - Florbela Espanca
Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas;
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu amor pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos...
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
Longe de ti não há luar nem rosas;
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu amor pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos...
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
Black Friday
Black Friday e eu vermelhim
igual Chapolim,
pensando teus joelhos
eu verde de inveja das tuas meias
igual Chapolim,
pensando teus joelhos
eu verde de inveja das tuas meias
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
terça-feira, 26 de novembro de 2019
Conto
Conto meus passos contando a palavra, em um dois pra lá e dois pra cá que por vezes flerta com a dança, construindo trajetos escritos, sussurrados, que nem sempre rimam, mas rumam, num tatear silábico, esperançosos de que o tal rumo seja um passo mais próximo dos teus braços
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
domingo, 24 de novembro de 2019
Alberto Caeiro - Última estrela a desaparecer antes do dia,
Alberto Caeiro
Última estrela a desaparecer antes do dia,
Última estrela a desaparecer antes do dia,
Pouso no teu trémulo azular branco os meus olhos calmos,
E vejo-te independentemente de mim,
Alegre pela vitória que tenho em poder ver-te,
Sem «estado de alma» nenhum, senão ver-te.
A tua beleza para mim está em existires.
A tua grandeza está em existires inteiramente fora de mim.
29-5-1918
“Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1994. - 144.
Última estrela a desaparecer antes do dia,
Última estrela a desaparecer antes do dia,
Pouso no teu trémulo azular branco os meus olhos calmos,
E vejo-te independentemente de mim,
Alegre pela vitória que tenho em poder ver-te,
Sem «estado de alma» nenhum, senão ver-te.
A tua beleza para mim está em existires.
A tua grandeza está em existires inteiramente fora de mim.
29-5-1918
“Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1994. - 144.
sábado, 23 de novembro de 2019
dia de fogos
Em dia de fogos, meu gato se esconde, e meu pensamento passeia por avenidas sem rima, buscando encontrar teus sapatos.
eu sei lá
"eu sou eu
aí você chega
e eu sei lá"
ramai, no livro "eu te amo como uma criança dirigindo um carro"
aí você chega
e eu sei lá"
ramai, no livro "eu te amo como uma criança dirigindo um carro"
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
quarta-feira, 20 de novembro de 2019
Sem perhaps
Consigo imaginar um mundo sem pão de queijo. Um mundo um tanto mais triste, é verdade. Mas a maior parte do planeta desconhece esse manjar. Na Austrália não se sabe o que é pão de queijo, assim como na terra de Dostoievski. Também me é possível divisar uma realidade sem chocolate. Meio amargo. Meio amarga essa realidade. Mas é isso aí. Sem joguinhos de vídeo seria mais chato. "Detroit", estou olhando pra você. Sem doce de leite, rocambole de goiaba, sorvete de passas ao rum... agora... sem teu nariz, eita mundo difícil de imaginar...
terça-feira, 19 de novembro de 2019
segunda-feira, 18 de novembro de 2019
Cheganças
"Se soubesse como gosto das suas cheganças, você chegaria correndo todo dia."
Chico Buarque - Leite Derramado
Chico Buarque - Leite Derramado
domingo, 17 de novembro de 2019
sábado, 16 de novembro de 2019
História da contagem do tempo
Passeia pelas casas, sobrevoando-as, como coruja inexorável, o tempo, pintado de relógio, que é pra eu poder transformar em números a infindável sucessão de instantes em que não te vejo. E não há dúvidas de que o intuito do relógio é só esse, partindo de Zeus, passando por Santos Dumont, que o aprisiona ao pulso, e chegando aos onipresentes celulares, a história dos ponteiros é a trajetória dos ponteiros apontando pra ti. Mesmo os relógios digitais entram no estratagema, brincando de escrever teu nome com o acender e apagar dos tracinhos.Traçam a rota dos meus olhos fechados. Ampulheta é o quanto falta até Morfeu, vulgo Zé Pestana, me emprestar sua areia para que possa sonhar contigo.
sexta-feira, 15 de novembro de 2019
desigualdade
diante da hecatombe iminente da espécie humana, é preciso que se diga uma coisa, para além do que significa hecatombe, é necessário que se registre a brutal desigualdade distributiva no que tange ao número de versos por pessoa... ora, enquanto fulana tem pra si verso e mais verso e ainda mais verso, há quem durma ainda descoberto da palavra, carente de uma linha, desejoso ou desejosa de uma estrofe que torne a noite um tantinho mais apetecível.
quinta-feira, 14 de novembro de 2019
quarta-feira, 13 de novembro de 2019
terça-feira, 12 de novembro de 2019
um milhão de tsurus
Vem com a estrela cá pra baixo, que hoje quero pedir a parte de trás da tua mão, esse trem que não tem nome, mas que hei de inventar só pra batizar um poema, que fazer poesia é também valsar com o dicionário, e escrever a estrela, pra rimar com o pedido, soprar a palavra como quem apaga velinha, brincando de sussurrar no escuro, de fechar os olhos e dizer palavra pra ver se acontece, como quem escreve teu nome em um milhão de tsurus.
segunda-feira, 11 de novembro de 2019
domingo, 10 de novembro de 2019
Bukowski
“If I never see you again
I will always carry you
inside
outside
on my fingertips
and at brain edges
and in centers
centers
of what I am of
what remains.”
― Charles Bukowski, Living on Luck
I will always carry you
inside
outside
on my fingertips
and at brain edges
and in centers
centers
of what I am of
what remains.”
― Charles Bukowski, Living on Luck
sábado, 9 de novembro de 2019
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