sábado, 30 de novembro de 2019
sexta-feira, 29 de novembro de 2019
A noite em que sonhei que era Carlos Drummond de Andrade
Na noite em que sonhei que era Carlos Drummond de Andrade,
tuas nádegas povoavam meu sonho,
como palavras que se realizam...
e as repartições públicas exalavam poesia
em um país que já não gosta de funcionários públicos
em um país de notícias de jornal
Na noite em que sonhei que era Carlos Drummond de Andrade,
as horas se contorciam como ginastas
as notícias se contorciam como ginastas
os bois voavam pra China
e tuas nádegas habitavam meus olhos de Carlos Drummond de Andrade
tuas nádegas povoavam meu sonho,
como palavras que se realizam...
e as repartições públicas exalavam poesia
em um país que já não gosta de funcionários públicos
em um país de notícias de jornal
Na noite em que sonhei que era Carlos Drummond de Andrade,
as horas se contorciam como ginastas
as notícias se contorciam como ginastas
os bois voavam pra China
e tuas nádegas habitavam meus olhos de Carlos Drummond de Andrade
A noite dissolve os homens - Carlos Drummond de Andrade
A noite
desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda, sem esperança...
Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho na noite.
A noite é mortal, completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!
nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.
Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio...
Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.
(Poema da obra Sentimento do mundo), de Carlos Drummond de Andrade
desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda, sem esperança...
Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho na noite.
A noite é mortal, completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!
nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.
Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio...
Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.
quinta-feira, 28 de novembro de 2019
Fumo - Florbela Espanca
Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas;
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu amor pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos...
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
Longe de ti não há luar nem rosas;
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu amor pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos...
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
Black Friday
Black Friday e eu vermelhim
igual Chapolim,
pensando teus joelhos
eu verde de inveja das tuas meias
igual Chapolim,
pensando teus joelhos
eu verde de inveja das tuas meias
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
terça-feira, 26 de novembro de 2019
Conto
Conto meus passos contando a palavra, em um dois pra lá e dois pra cá que por vezes flerta com a dança, construindo trajetos escritos, sussurrados, que nem sempre rimam, mas rumam, num tatear silábico, esperançosos de que o tal rumo seja um passo mais próximo dos teus braços
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
domingo, 24 de novembro de 2019
Alberto Caeiro - Última estrela a desaparecer antes do dia,
Alberto Caeiro
Última estrela a desaparecer antes do dia,
Última estrela a desaparecer antes do dia,
Pouso no teu trémulo azular branco os meus olhos calmos,
E vejo-te independentemente de mim,
Alegre pela vitória que tenho em poder ver-te,
Sem «estado de alma» nenhum, senão ver-te.
A tua beleza para mim está em existires.
A tua grandeza está em existires inteiramente fora de mim.
29-5-1918
“Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1994. - 144.
Última estrela a desaparecer antes do dia,
Última estrela a desaparecer antes do dia,
Pouso no teu trémulo azular branco os meus olhos calmos,
E vejo-te independentemente de mim,
Alegre pela vitória que tenho em poder ver-te,
Sem «estado de alma» nenhum, senão ver-te.
A tua beleza para mim está em existires.
A tua grandeza está em existires inteiramente fora de mim.
29-5-1918
“Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1994. - 144.
sábado, 23 de novembro de 2019
dia de fogos
Em dia de fogos, meu gato se esconde, e meu pensamento passeia por avenidas sem rima, buscando encontrar teus sapatos.
eu sei lá
"eu sou eu
aí você chega
e eu sei lá"
ramai, no livro "eu te amo como uma criança dirigindo um carro"
aí você chega
e eu sei lá"
ramai, no livro "eu te amo como uma criança dirigindo um carro"
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
quarta-feira, 20 de novembro de 2019
Sem perhaps
Consigo imaginar um mundo sem pão de queijo. Um mundo um tanto mais triste, é verdade. Mas a maior parte do planeta desconhece esse manjar. Na Austrália não se sabe o que é pão de queijo, assim como na terra de Dostoievski. Também me é possível divisar uma realidade sem chocolate. Meio amargo. Meio amarga essa realidade. Mas é isso aí. Sem joguinhos de vídeo seria mais chato. "Detroit", estou olhando pra você. Sem doce de leite, rocambole de goiaba, sorvete de passas ao rum... agora... sem teu nariz, eita mundo difícil de imaginar...
terça-feira, 19 de novembro de 2019
segunda-feira, 18 de novembro de 2019
Cheganças
"Se soubesse como gosto das suas cheganças, você chegaria correndo todo dia."
Chico Buarque - Leite Derramado
Chico Buarque - Leite Derramado
domingo, 17 de novembro de 2019
sábado, 16 de novembro de 2019
História da contagem do tempo
Passeia pelas casas, sobrevoando-as, como coruja inexorável, o tempo, pintado de relógio, que é pra eu poder transformar em números a infindável sucessão de instantes em que não te vejo. E não há dúvidas de que o intuito do relógio é só esse, partindo de Zeus, passando por Santos Dumont, que o aprisiona ao pulso, e chegando aos onipresentes celulares, a história dos ponteiros é a trajetória dos ponteiros apontando pra ti. Mesmo os relógios digitais entram no estratagema, brincando de escrever teu nome com o acender e apagar dos tracinhos.Traçam a rota dos meus olhos fechados. Ampulheta é o quanto falta até Morfeu, vulgo Zé Pestana, me emprestar sua areia para que possa sonhar contigo.
sexta-feira, 15 de novembro de 2019
desigualdade
diante da hecatombe iminente da espécie humana, é preciso que se diga uma coisa, para além do que significa hecatombe, é necessário que se registre a brutal desigualdade distributiva no que tange ao número de versos por pessoa... ora, enquanto fulana tem pra si verso e mais verso e ainda mais verso, há quem durma ainda descoberto da palavra, carente de uma linha, desejoso ou desejosa de uma estrofe que torne a noite um tantinho mais apetecível.
quinta-feira, 14 de novembro de 2019
quarta-feira, 13 de novembro de 2019
terça-feira, 12 de novembro de 2019
um milhão de tsurus
Vem com a estrela cá pra baixo, que hoje quero pedir a parte de trás da tua mão, esse trem que não tem nome, mas que hei de inventar só pra batizar um poema, que fazer poesia é também valsar com o dicionário, e escrever a estrela, pra rimar com o pedido, soprar a palavra como quem apaga velinha, brincando de sussurrar no escuro, de fechar os olhos e dizer palavra pra ver se acontece, como quem escreve teu nome em um milhão de tsurus.
segunda-feira, 11 de novembro de 2019
domingo, 10 de novembro de 2019
Bukowski
“If I never see you again
I will always carry you
inside
outside
on my fingertips
and at brain edges
and in centers
centers
of what I am of
what remains.”
― Charles Bukowski, Living on Luck
I will always carry you
inside
outside
on my fingertips
and at brain edges
and in centers
centers
of what I am of
what remains.”
― Charles Bukowski, Living on Luck
sábado, 9 de novembro de 2019
sexta-feira, 8 de novembro de 2019
oferenda
Ofereço um verso ao Deus da palavra, edifico hermenêuticas em paralelepípedos e pleiteio uns poucos segundos de teus óculos sobre meus disparates. Disparo palavra por palavra em uma sequência de cadência aliterante e paro pra tomar fôlego quando queria mesmo era que o teu fôlego se perdesse em algum ponto do caminho entre Hanói e Banguecoque, e já reparou que dá pra perder o fôlego até quando se lê só em pensamento? É o díspar da palavra, o paro, pra ir até a esquina pra almejar tua sombra, o despir-se de um sentido para que outro floresça, e a flor é também oferenda ao tal Deus da palavra.
quinta-feira, 7 de novembro de 2019
quarta-feira, 6 de novembro de 2019
terça-feira, 5 de novembro de 2019
tampa do iogurte
e eu lamberia mil selos, das cartas por te escrever, e a tampa do iogurte, teu mapa astral, tua rota de estrelas, e o teu dedo, que aponta pra elas
segunda-feira, 4 de novembro de 2019
Não perca o Sul
Em certo ponto da história da humanidade, decidiram que era o Norte a ser buscado. De tal modo que se dizia de um navio que buscasse o Sul e se perdesse, havia perdido o Norte... ora, e quem perde o Sul? Logo, de cara, perde os pinguins... tem jeito não. Ignorar o Cruzeiro do Sul é perder o rumo. E a batata, que de inglesa não tem nada? Logo a batata, que une todas as tribos? É dessas bandas, dos Andes. Veja bem. E a mandioca? Qual a razão de ser de um boteco que não tenha mandioca frita? Noves fora nada, serve isso pra dizer que, quando escapo dos teus olhos, busco teu Sul, passeando a nau dos olhos, do nariz ao dedão, passando pelo Equador.
domingo, 3 de novembro de 2019
fuso
hoje o fuso quase que me confunde, funde minha cuca, crocodilo de Pan, tragou o tempo, quase que não sobra domingo pra eu sorrir em palavras, cochichar um versinho em wi-fi que almeje alcançar tua conexão. Hoje quase que o tempo me devora, hora após hora, só se salvava o minuto de afago à palavra, um quase nada que é quase tudo, de inimigo do Chapolin colorado a meu desejo incontido por tuas bochechas vermelhas, poema em rubor, que poema também pode ter cor, para além daquelas canetas da infância em que cada botão era um emaranhado de tons inusitados... poema se veste de azul, por vezes, pra brincar de céu e te sobrevoar, ou se pinta no verde da árvore, só pra te dar um minuto de sombrinha... o tal minuto do afago à palavra.
sábado, 2 de novembro de 2019
sexta-feira, 1 de novembro de 2019
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