sexta-feira, 31 de julho de 2020
denoitinha
Denoitinha é uma palavra tão bonita, parece um abraço, parece um convite. Repare no carinho que evoca. E é denoitinha que meus pensamentos brincam de cantar música do Milton Nascimento enquanto acalentam desejos, que ainda hão de ganhar nome, por teus tornozelos.
Amor e seu tempo - Drummond
Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.
quinta-feira, 30 de julho de 2020
quarta-feira, 29 de julho de 2020
my swallow
and I'd swallow you whole
like a rolling stone
like my particular ocean
like a poem
like a pray in a winter's night
like a witch
oh, I wish
like a frog
in a lake
I'd drink all your rain
like a thought
In politics
I love your thighs
through and through
I love your thighs
through and through
like a thought
like a Thursday
that I can touch
that I can bite
terça-feira, 28 de julho de 2020
tem dia
Tem dia da semana que me lembra mais do teu braço
tem dia que é da perna
tem dia de Sol e chuva
e tem dia em que meu labirinto deságua na sola do teu sapato
segunda-feira, 27 de julho de 2020
vermelho
verso é rosto encabulado
verso é vermelho
riso indisfarçável
o poema é um sorriso em conserva
cantada atrás da cortina
por isso o descortinar
domingo, 26 de julho de 2020
Mia Couto - A Demora
O amor nos condena:
demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.
Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.
Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.
Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.
O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.
Mia Couto, in " idades cidades divindades"
demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.
Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.
Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.
Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.
O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.
Mia Couto, in " idades cidades divindades"
manifesto
redijo um manifesto por teu nariz, apresentação em cartolina, trabalho da sexta série, capa com canetinha, e eu tinha tanto ainda por dizer, na contra-capa, voo rasante, quase tocando tua camisola, caminho de sonho
sábado, 25 de julho de 2020
sexta-feira, 24 de julho de 2020
Esta linha é um título
Este livro é um imenso poema de amor. É a prosa no entre-dentes, suspiro sob o cobertor. Tentativa de cobrir o mundo com palavras, como pedras-sabão, que pavimentam tardes e pensamentos. Se uma das pontas do poema chega a teus lábios, terá cumprido sua função social, será qualquer coisa como tabuleta em uma rua pavimentada por pedra-sabão, ainda que a rua esteja só no verso. Este poema é um pequeno livro de amor. É um dente-de-alho, cobertor de suspiros. Tentativa de cobrir as palavras com o mundo, pavimentar de tabuletas o poema. Morder uma das pontas do poema, sonhando ser tua orelha. Este amor é um poema.
quinta-feira, 23 de julho de 2020
quarta-feira, 22 de julho de 2020
amor em terabytes²
escondo/mostro minhas taras em versos
em terabytes
beijos e bytes
faço-te juras em jpeg
pego poemas e transformo em pdf
terça-feira, 21 de julho de 2020
Ditado
Faço ditado de beijos que nomeio
beijos que moram na rua ladrilhada de meu pensamento
beijos que carregam teu sobrenome
organizo por ordem alfabética
não
por teu pedaço a que se destina o tal beijo
não
pelo nome do poema que inspirou esse devaneio com nome de beijo
nope
pela música que tocava enquanto eu embalava o dito cujo
talvez
passo às palavras-cruzadas
segunda-feira, 20 de julho de 2020
Desatino como verbo
Desatino o verso
Desato o verbo
Só pra atar asas a teus calcanhares
Ando e desando
Faço de meu nome gerúndio
Gero absurdos
Contínuos
Continuo a nadar
Buscar teu rabo de sereia
Em música do Gil
Em poesia de três da matina
domingo, 19 de julho de 2020
farra
de grau em grau, escalo o Himalaia, pra buscar teus devaneios e juntar aos meus, deliro que nem verbo, lambendo cada vogal de teu nome e sobrenome. Faço-me íntimo de cada tua consoante e, chegando aos quarenta graus, fazemos uma farra de acordar cada poema que já te dediquei.
sábado, 18 de julho de 2020
sexta-feira, 17 de julho de 2020
quinta-feira, 16 de julho de 2020
Eu te verbo
Te falo, naquela orelha de livro, te digo, naquela música do Milton, te assopro, no trecho do poema que resta na ponta da língua, te lambo, no comercial de iogurte, te abraço, no moletom surrado, te amasso, naquele sonho bom
quarta-feira, 15 de julho de 2020
Álvaro Alves de Faria
POEMA 30
Sou um poeta em via de extinção,
daqueles que acreditavam no sonho,
sobretudo na poesia.
Daqueles que utilizavam as palavras para escrever
e nesse exercício solitário deixavam que a vida
escorresse no poema.
Sou um poeta em extinção,
ridículo como uma carta de amor,
tipo que se emotiva à toa
a qualquer pretexto para sentir-se só.
Daqueles que de alguma maneira
passeavam com animais imaginários
e guardavam uma ovelha no quarto.
Daqueles que às manhãs acreditavam num novo dia
e aguardavam a tarde chegar conversando com as formigas.
Daqueles poetas que não existem mais
porque a poesia mudou
e se antes vivia nas sombras
era sua descoberta que importava.
A poesia pertencia à vida do homem,
dos bichos, das plantas e das pedras,
mas hoje isso é sonhar demais.
Tanto sonho não cabe mais na cabeça de um poeta,
só nos que estão em via de extinção,
daqueles que iam à igreja para esconder-se do mundo
sem saber que a igreja é o esconderijo de Deus.
Nas madrugadas era possível falar-se sozinho,
mas hoje a boca se fecha inerte
ao passar das horas paradas nos relógios.
Sou daqueles poetas que já morreram
pedindo pela liberdade
quase sempre ferida a golpes perversos
da força e da crueldade.
De tal forma
que não há mais lugar para poetas assim,
senão o resto da sina
não de seguir,
mas de parar nas esquinas
sem perceber os sobressaltos.
Álvaro Alves de Faria
Sou um poeta em via de extinção,
daqueles que acreditavam no sonho,
sobretudo na poesia.
Daqueles que utilizavam as palavras para escrever
e nesse exercício solitário deixavam que a vida
escorresse no poema.
Sou um poeta em extinção,
ridículo como uma carta de amor,
tipo que se emotiva à toa
a qualquer pretexto para sentir-se só.
Daqueles que de alguma maneira
passeavam com animais imaginários
e guardavam uma ovelha no quarto.
Daqueles que às manhãs acreditavam num novo dia
e aguardavam a tarde chegar conversando com as formigas.
Daqueles poetas que não existem mais
porque a poesia mudou
e se antes vivia nas sombras
era sua descoberta que importava.
A poesia pertencia à vida do homem,
dos bichos, das plantas e das pedras,
mas hoje isso é sonhar demais.
Tanto sonho não cabe mais na cabeça de um poeta,
só nos que estão em via de extinção,
daqueles que iam à igreja para esconder-se do mundo
sem saber que a igreja é o esconderijo de Deus.
Nas madrugadas era possível falar-se sozinho,
mas hoje a boca se fecha inerte
ao passar das horas paradas nos relógios.
Sou daqueles poetas que já morreram
pedindo pela liberdade
quase sempre ferida a golpes perversos
da força e da crueldade.
De tal forma
que não há mais lugar para poetas assim,
senão o resto da sina
não de seguir,
mas de parar nas esquinas
sem perceber os sobressaltos.
Álvaro Alves de Faria
De “Babel”, 2007
terça-feira, 14 de julho de 2020
Extensão
Penso a extensão de teus dedos, pra onde apontam, em manhãs frias e na água quente do banho, em tardes ensolaradas e no vazio de alguma segunda sem rumo. Será feito de palavra o teu além-dedo? De música? Poesia? Ou é, então, quiçá, a manifestação insólita de meus desejos físicos e metafísicos?
segunda-feira, 13 de julho de 2020
domingo, 12 de julho de 2020
mejor lugar
"No hubo mejor lugar en la cual habitar que en la de sus ojos cuando me miraba."
-Jilmar Velis.
sábado, 11 de julho de 2020
brega
E, brega, rasgo o verbo, mas ele se costura, pra dizer do teu nariz (um dia há de virar meme o quanto menciono teu nariz: o tarado do nariz), costura caminhos em meu vocabulário, evoca a vontade de dançar juntinho uma dança de passos tortos, o verbo, rasgado, costurado, lavado e passado, dá um passinho e é já futuro, olha pela janela e sonha dizer do teu umbigo, o verbo mergulhado em meu sábado brega
sexta-feira, 10 de julho de 2020
quinta-feira, 9 de julho de 2020
serendipity
e se num se eu te encontro
se tu cisma de aparecer
em dois séculos
ou dois centímetros
eu se alegro todo
então
sejo feliz
quarta-feira, 8 de julho de 2020
terça-feira, 7 de julho de 2020
sobre linhas, café, poemas, mordidas e o ar
meus olhos arregalados buscam as linhas que tecem a madrugada
café com texto
café com texto
fechados, acham teu nariz
mordo o ar
segunda-feira, 6 de julho de 2020
domingo, 5 de julho de 2020
sábado, 4 de julho de 2020
Soletrar²
Na língua de Shakespeare, a palavra "soletrar" é a mesma que se usa pra "feitiço", "magia", "encanto": SPELL. Soletro, pois, teu nome, em letras de pão de forma, e conjuro um versinho que te aqueça a orelha.
sexta-feira, 3 de julho de 2020
Soletrar
Minha vida mudou pra sempre depois de descobrir que conseguia soletrar teu nome em potes de margarina. Daí foi um passo pra frascos de xampu e receitas de bolo. Eu lia o mundo por meio de tuas vogais, colecionava consoantes em placas de comércio da W3, sonhava sílabas que acariciassem meus lábios partindo de tua alcunha.
quinta-feira, 2 de julho de 2020
queixo caído
saltava aos olhos meu riso bobo ao vislumbrar teus calcanhares, quer dizer, meus olhos é que saltavam sobre eles, dançavam um tango de dar gosto, e o riso bobo era já queixo caído...
14. - Gonçalo M. Tavares
14.
A história da dança não é, não pode ser, o Percurso dos Movimentos traçado no chão.
É, tem de ser, o Percurso dos Movimentos Traçado no ar.
Acreditar que os Pássaros são resto de COREOGRAFIAS. Imagens do corpo que ficaram atrás, suspensas.
(As nuvens ainda, tudo o que é alto, o céu.)
Os pássaros são restos de COREOGRAFIAS.
A história da dança não é, não pode ser, o Percurso dos Movimentos traçado no chão.
É, tem de ser, o Percurso dos Movimentos Traçado no ar.
Acreditar que os Pássaros são resto de COREOGRAFIAS. Imagens do corpo que ficaram atrás, suspensas.
(As nuvens ainda, tudo o que é alto, o céu.)
Os pássaros são restos de COREOGRAFIAS.
Gonçalo M. Tavares
in o Livro da Dançaquarta-feira, 1 de julho de 2020
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