quinta-feira, 22 de agosto de 2024

A MELHOR GANGUE (Roberto Bolaño)

“Se eu tivesse que assaltar o banco mais fortemente guardado da Europa
e pudesse escolher meus parceiros no crime,
eu levaria um grupo de cinco poetas, sem dúvidas.
Cinco poetas verdadeiros,
apolíneos ou dionisíacos,
mas sempre reais,
prontos pra viver e morrer como poetas.
Ninguém no mundo é tão corajoso quanto um poeta.
Ninguém no mundo enfrenta o desastre com mais dignidade e compreensão.
Podem parecer frágeis,
esses leitores de Guido Cavalcanti e Arnaut Daniel,
esses leitores do desertor Archilochus
que escolheu seu caminho através de um campo de ossos.
Eles trabalham no vazio da palavra,
como astronautas abandonados em planetas sem saída,
em desertos onde não há leitores ou editores,
apenas construções gramaticais ou canções estúpidas cantadas não por homens, mas por fantasmas.
Na guilda dos escritores, são a joia mais valiosa e menos procurada.
Quando algum jovem iludido decide aos dezesseis ou dezessete anos ser poeta, é uma tragédia familiar garantida.
A Sibéria do exílio do poeta tende a trazer vergonha para sua família.
Leitores de Baudelaire não têm uma vida fácil no ensino médio,
ou com seus colegas de classe, muito menos com seus professores.
Mas sua fragilidade é enganosa.
Assim como seu humor e a volubilidade de suas declarações de amor.
Por trás dessas frentes sombrias, provavelmente estão as pessoas mais duras do mundo e definitivamente as mais corajosas.
Não é à toa que são descendentes de Orfeu, que determinou o ritmo para os Argonautas e que desceu ao inferno e emergiu novamente, menos vivo do que antes de seu feito, mas ainda vivo.
Se eu tivesse que assaltar o banco mais fortemente fortificado da América, eu levaria um grupo de poetas.
A tentativa provavelmente terminaria em desastre, mas seria bela”.

A MELHOR GANGUE
(Roberto Bolaño)
 

Nenhum comentário: