terça-feira, 30 de junho de 2020

Sobre o florir



Viver e Trabalhar

Poxa, as músicas do Wando não


bocejo

eu no devaneio ao lado,
passava rente a teu bocejar, 
passava da hora, 
já, 
e relógio é nervoso,
se apieda não,
cobra bem de manhãzinha,
mas eu pulo o muro,
salto desembestado,
me evado pro teu bocejo,
ergo lá outro devaneio,
mais jeitoso,
com vista pro pôr-do-Sol

domingo, 28 de junho de 2020

Domingo

Em domingo de Milton, da janela lateral, das janelas do navegador, sonho sonhos de girassol, de teu cabelo...

Un ratito


sábado, 27 de junho de 2020

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Brasa

Salto fogueira
queimo a palavra
palavra me incendeia
palavra é brasa
arde na mão
até ganhar vida
pular quadrilha
experimentar quentão
com gosto de cravo
aquecer tua orelha
soprar meus desejos
palavra vermelha
como brasa

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Ana Cristina Cesar - Olho muito tempo o corpo de um poema

Olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas.

– Ana Cristina Cesar, “A Teus Pés (1982). em “Os cem melhores poemas brasileiros do Século”. [seleção e organização Ítalo Moriconi]. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001.

Das utilidades do guarda-chuva


domingo, 21 de junho de 2020

Sobre o dom da palavra

Se Drummond me emprestasse o dom da palavra, por cinco minutinhos, eu conseguiria dizer das tuas pernas, com a profundidade de que só um itabirano, filho de dona Julieta, é capaz... assim como sou, resta-me apalpar a palavra, tateando mesmo, e buscar dela um ângulo que meus olhos destreinados julguem favorável, orando baixinho, com sete velas de sete dias como oferenda, pra que ao menos um de teus tantos adjetivos me sorria, e então haja Sol.

Rain by Charles Bukowski

sábado, 20 de junho de 2020

quase que

Hoje estendi a mão e quase que toquei o Sol, eu quase que adio o inverno um instantinho, quase que alcanço teus cabelos...

sexta-feira, 19 de junho de 2020

19 de junho

Eu queria uma palavra caqui, 
pra te dar,
mas não só o caqui, 
não só a palavra, 
eu queria que tu experimentasse minha alegria ao experimentar um caqui, 
queria conseguir escrever isso da maneira que me brota na cabeça, 
da maneira que tu me brota na cabeça, 
queria que tu fosse um caqui, 
uma palavra, 
pra eu te dar essa palavra, 
depois de passar por minha cabeça, 
de passear com meus traumas e êxtases... 
te presentearia você como palavra, 
como caqui, 
como desejo que singra os céus de meu bem-querer...
queria te dar uma estrela-caqui-palavra... 
eu queria te dar um poema.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Kitten pie


Poeminha Amoroso – Cora Coralina

Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu…
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu…
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo…
eu te amo, perdoa-me, eu te amo…

domingo, 14 de junho de 2020

3:17


avia

avia, menina, que o verso tem pressa de te agarrar pelos tornozelos
avia, que o verso é ligeiro, me consome inteiro
e rima com a sombra da tua mão

sábado, 13 de junho de 2020

dezenove milhões

Das dezenove milhões de vezes em que imaginei, só na parte da manhã, os rumos que teu cabelo tomou, uma em particular me arrancou um sorriso de janela... na parte da tarde, tua cintura tomou de assalto a horda de meus pensamentos e então fez-se festa nos céus.

Ana Cristina Cesar- Navegação da Palavra


quinta-feira, 11 de junho de 2020

Liniers - más estrellas


latifúndio

meu bem-querer é latifúndio, rural, urbano, invade fazendas e ocupa os prédios que te rodeiam, ignora cercas e cadeados, e não aceita ser quantificado pela quadradura do metro, caçoa do alqueire, corre sete léguas sobre sete léguas, até uivar pra Lua.

domingo, 7 de junho de 2020

Ana Cristina Cesar


imagino como seria te amar

teria o gosto estranho das palavras
                                                       que brincamos
e a seriedade de quando esquecemos
quais palavras

imagino como seria te amar
desisto da ideia numa verbal volúpia
e recomeço a escrever
                                         poemas.

Ana Cristina Cesar, Poética. p. 201.

Adriana Calcanhotto - Ninguém na Rua

sábado, 6 de junho de 2020

CAIXA ALTA

E EIS QUE ME CALHA DE TE ESCREVER ASSIM, 
EM CAIXA ALTA, 
COMO QUEM GRITA NA ESQUINA,
ESBAFORIDO,
BUSCANDO O AR E TUA SAIA,
OU GRITANDO VERSO DA JANELA, 
ATÉ OS VIZINHOS FICAREM VERMELHOS,
ATÉ A PALAVRA ASCENDER AOS CÉUS,
ATÉ O POEMA VIRAR PALADAR PRO TEU OUVIDINHO,
pra então te cochichar bem baixinho meus desejos rubros

ANA MARTINS MARQUES – A DESCOBERTA DO MUNDO

Procuro alcançar-te
com palavras
com palavras
conhecer-te

como quem
com uma lanterna e um mapa
crê empreender
a descoberta do mundo

levanto-me
estou sozinha no escuro
com os dois pés
no cimento frio

(onde estás
no que escrevi?)

Ana Martins Marques, Da arte das armadilhas

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Oremos


Negócio aqui

Ei, menina, que me decora as pupilas, que me povoa a caixola, que me empurra pra poesia, que me pavimenta o devaneio... ei, menina, me empresta teus lábios, um minutinho, só pr'eu ver um negócio aqui

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Camões


MIA COUTO – O AMOR, TALVEZ

Este perder-me de mim
até não ser minha
a minha própria vida:
talvez seja isso
o que outros chamam de amor.

Sopro a pétala,
voam os dedos
pelo céu do teu corpo.

E quando te dispo
é para que o mundo emudeça,
num desmaio de ausência.

E talvez seja isso
que os outros chamam de amor.

Mia Couto, Vagas e lumes

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Rodrigo Alarcon part. Abacaxepa - Apesar de querer (clipe)

Adélia Prado - Corridinho

O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.

Adélia Prado, Poesia Reunida

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Abrazo virtual


Trem

Essa incompletude besta, que não faz balançar folha das árvores, pega carona nas horas e amplifica o tic-tac até que se ouça na sonda que mira as estrelas, esse mastigar no peito, que não altera o nível das águas de Iguaçu, instaura reinos de poesia em meu balde despejado, essa ausência de tuas metafísicas, que não altera o valor da libra esterlina, mexe com minha xícara café...