terça-feira, 29 de setembro de 2020

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

o imperativo do verso

traz o verso

traz o verso

que é segunda

bom, quase terça

mas ainda segunda

e é preciso tragar o verso

é preciso vertê-lo em um gole

banhar-se

afogar-se no verso

afagá-lo até que se confesse ao nariz querido

abraçá-lo até que diga do cotovelo almejado

espremê-lo até se enrosque com as madeixas mais queridas

é preciso querer o verso

sobretudo querer o verso


Mariana Froes - Espelho (lyric)

No Puedes Cambiar De Pasión

O segredo dos seus olhos

 “– Uma paixão é uma paixão.

— As pessoas podem mudar tudo, de cara, de casa, de família, de namorada, religião, de Deus. Mas tem uma coisa que não se pode mudar, Benjamin. Não se pode mudar de paixão.”

sábado, 26 de setembro de 2020

Saramago em Cadernos de Lanzarote

"Quem lê poesia, lê para quê? Para encontrar, ou para encontrar-se? Quando o leitor assoma à entrada do poema, é para conhecê-lo, ou para reconhecer-se nele? Pretende que a leitura seja uma viagem de descobridor pelo mundo do poeta, como tantas vezes se tem dito, ou, mesmo sem o querer confessar, suspeita que ela não será mais do que um simples pisar novo das suas próprias e conhecidas veredas? Não serão o poeta e o leitor como dois mapas de estradas de países ou regiões diferentes que, ao sobrepor-se, um e outro tornados transparência pela leitura, se limitam a coincidir algumas vezes em troços mais ou menos longos de caminho, deixando inacessíveis e secretos espaços de comunicação por onde apenas circularão, sem companhia, o poeta no seu poema, o leitor na sua leitura? Mais brevemente: que compreendemos nós, de facto, quando procuramos a-preender a palavra e o espírito poéticos?"
(JOSÉ SARAMAGO / "Cadernos de Lanzarote")

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Kundera

“My lifetime ambition has been to unite the seriousness of question with the lightness of form.” —Milan Kundera

e tem o céu


 

religião

 De meu arremedo de religião, 

essa adoração ao verso, 

essa vigília por teus tornozelos, 

esse zelo por pão de queijo,

desse misticismo verbal,

da língua,

da língua,

conjugo tempos e sou conjugado,

acendo velas de sete dias,

sete dias de suspiro,

que não escapei do tom cabalístico,

e suspiro é oração,

e escrever é louvar,

louvar um joelho

adorar um joelho,

dar voz ao verbo,

imaginar alguém lendo um verso...

é comer os chocolates com a pequena suja.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Cícero


 

Quintana e curva

Linha Curva
O caminho mais agradável entre dois pontos.
Mário Quintana

Choveu

Choveu

meu time perdeu

rima chata, essa

Primavera

 Primavera pressas bandas, de chove não chove, chovo eu, na tua horta, meio torto, eu, e admiro o "gauche" de Drummond, mas torto é tão mais nosso, tipo as pernas do garrincha, tipo os traços de Brasília, tipo os caracóis da música, tipo a curva que minha boca ensaia pensando a tua.

Primavera (Vai Chuva)

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

brincar de colorir

De mim sei tanto quanto de um livro velho ao qual a capa ignoro

De ti sei tanto quanto meus olhos fechados, passeando por paisagens que ignoro, mas que preencho com versos, preencho com desejos que não sei nomear e por isso brinco de colorir

E fecho os olhos em cada café que tomo, a cada segundo que furto à labuta

Talvez por isso goste tanto de café

El amor (Eduardo Galeano).

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

gerúndio, infinitivo e infinito

 De tanto desejar tua panturrilha, acabei desejando desejar, gostando do gosto de gostar, eita, querendo e querendo querer, indo do infinitivo ao gerúndio e voltando, indo ao infinito, e além

O Teatro Mágico - Não há de ser nada (Conhecida como "Brilha onde estiv...

A outra metade é café


 

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Cabe não

 


zona de conforto

 hoje elejo adorar tua canela direita, pra sair da zona de conforto, pra sair, levar o verso pra passear, passar, quem sabe, da canela ao joelho, habitué do meu pensamento, exercício de imaginação, que, reza a lenda, faz bem o exercício

domingo, 13 de setembro de 2020

Ode à alegria - Beethoven (Simplesmente sublime)


 

Além do Bojador

 Pra cá do Equador

eu tô pr'além do Bojador

mas cá sem tu é lá

além, sem tu, aquém



sábado, 12 de setembro de 2020

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Poema de verão - Ana Martins Marques

Sobre ipês e setembro


 

vísceras

 faço de minhas vísceras palavra, de palavra poema, de poema desculpa, pra te acalentar junto das borboletas que alugam meu estômago

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

sobre saias e vento

Se o mundo vira de cabeça pra baixo

será que tua saia levanta?

ou se soou esse vento

que ruma e que rima

eu brinco de bagunçar teu cabelo

se caio do céu

sou chuva

que areja tua tarde

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Clarisse Lispector - além

"Quem eu sou, você só vai perceber quando olhar nos meus olhos, ou melhor, além deles."
Clarisse Lispector 

jardim

 De meu jardim de palavras

apanho uma rosa

rosa-palavra

palavra-rosa

rosa-teu-nome

teu-nome-palavra

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Oswald de Andrade - descoberta


 

So You Want To Be A Writer - Bukowski

if it doesn't come bursting out of youin spite of everything,
don't do it.
unless it comes unasked out of your
heart and your mind and your mouth
and your gut,
don't do it.
if you have to sit for hours
staring at your computer screen
or hunched over your
typewriter
searching for words,
don't do it.
if you're doing it for money or
fame,
don't do it.
if you're doing it because you want
women in your bed,
don't do it.
if you have to sit there and
rewrite it again and again,
don't do it.
if it's hard work just thinking about doing it,
don't do it.
if you're trying to write like somebody
else,
forget about it.
if you have to wait for it to roar out of
you,
then wait patiently.
if it never does roar out of you,
do something else.

if you first have to read it to your wife
or your girlfriend or your boyfriend
or your parents or to anybody at all,
you're not ready.

don't be like so many writers,
don't be like so many thousands of
people who call themselves writers,
don't be dull and boring and
pretentious, don't be consumed with self-
love.
the libraries of the world have
yawned themselves to
sleep
over your kind.
don't add to that.
don't do it.
unless it comes out of
your soul like a rocket,
unless being still would
drive you to madness or
suicide or murder,
don't do it.
unless the sun inside you is
burning your gut,
don't do it.

when it is truly time,
and if you have been chosen,
it will do it by
itself and it will keep on doing it
until you die or it dies in you.

there is no other way.

and there never was.

dia sério

É preciso fazer versos

porque o dia é serio

de ferro

é quina de mesa

carrega saudades em caminhões da Vale

o dia

importa do estrangeiro conceitos de sentir falta

só pra sofisticar a ausência

mas o verso põe os correios de greve

e coopta o carteiro

a só entregar cartas de amor

o dia é sério

mas o verso faz careta

faz de conta

que as contas não são um imperativo

quase categórico

o verso cata sorrisos pelos minutos distraídos

e distrai o relógio um tiquinho

sobretudo no início da semana

quando o dia é mais sério que o sério 

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

domingo, 6 de setembro de 2020

Dona da minha cabeça - Ana Clara Caetano

Feriado

 Disparo verso

na ponta da língua

na ponta do dedo

paro o ponteiro

eu paro e vou ver se tu tá na esquina

imagina

ponteiro parado

verso prontinho

e tu me aparece...

nem cabe no domingo

emenda até feriado

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Lau e Eu - Limitações (demo)

Sobre utopias e horizontes

" A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar." (EDUARDO GALEANO)



quarta-feira, 2 de setembro de 2020

sobre feijões

 Me agarro à palavra

como se fosse tua mão

como se fosse teu pé

como um náufrago

a quem atiram uma corda

ou um verso de Drummond

me agarro à palavra

como se para escrever teu nome

com caroços de feijão

na mesa da cozinha

como um menino de oito anos

enquanto a mãe cata feijão

e o menino descobre que existe um alfabeto de feijões

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Valter Hugo Mãe - In: "A Desumanização"

"As palavras são objetos magros incapazes de conter o mundo. Usamo-las por pura ilusão. Deixamo-nos iludir assim para não perecermos de imediato conscientes da impossibilidade de comunicar e, por isso, a impossibilidade da beleza. Todas as lagoas do mundo dependem de sermos ao menos dois. Para que um veja e o outro ouça. Sem um diálogo não há beleza e não há lagoa. A esperança na humanidade, talvez por ingénua convicção, está na crença de que o indivíduo a quem se pede que ouça o faça por confiança. É o que todos almejamos. Que acreditem em nós. Dizermos algo que se toma como verdadeiro porque o dizemos simplesmente."
.
(Valter Hugo Mãe - In: "A Desumanização")


Sobre esquinas, beijos e Klimt