terça-feira, 31 de outubro de 2017

Hello-in

Você era dama de vestidos de estrela cadente e eu, abóbora, fazia cara de bobo, babava pro teu decote
E, na dança, você pintava não um sete, mas um céu, e eu, em vez de sapo, era sapato, vestia teus pezinhos em noite fria
E a sopa que eu te dava te fazia rir com os trocadilhos
E eu trocava os pés pelas mãos, os "P"s por ipês, queria da língua era teu tato
E tateava a noite, buscando tu e você, em fantasias tupiniquins, importadas e até de outros mundos
Você transcendia meu caso reto e eu me candidatava ao emprego de ratinho que leva tua carruagem
Carregava poemas em baixo do braço e você carregava um sorriso que me fazia desejar três vezes que amanhã fosse sábado

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Salvo

Salvo engano, teus olhos me sorriam naquela noite. Salvo todas as horas em que construo conjecturas de acaso em que dou de cara com tua linda cara, trabalho e estudo. Salvo os poemas que eu mesmo escrevo, salvo os poemas que me fazem crer que melhorariam teu dia.

Alguma coisa acontece


clichês

faço uso de todos os clichês que tentem fazer jus a teus cachos, eu cato palavras em manifestos de arte contemporânea, tracejo os passos que poderiam ser teus, por ruas de flamboyants, caminhos que passam necessariamente por meus trajetos de pão de queijo, minha pausa pro café, mundo que para por três minutos, tempo de uma canção, de um carnaval, de um haikai, de um convite pra conhecer João Pessoa.

domingo, 29 de outubro de 2017

O que resta de domingo

Finda, já, o domingo, e as horas atadas se desprendem, marcham para aquele limbo repleto de retratos teus. Brinco de colorir as nuvens escuras que passeiam pelo céu da capital. Pajés importados executam burocraticamente uma dança da chuva. De minha parte, rezo para que teu céu esboce cores que amenizem a segunda. Segunda é purgatório. Contas a prestar a um cotidiano insosso. Resta é fazer poesia e brincar com as letras do teu nome.

sábado, 28 de outubro de 2017

Rubem Alves

"Escrever e ler são formas de fazer amor. O escritor não escreve com intensões didático – pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida curta ou são de vida longa e tediosa."
(Rubem Alves)

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Imenso coração²

Meu coração transborda pelas mangas da camisa, pela boca, pelas janelas do carro, ele percorre os cafés da cidade e lapida poemas de amor em cada árvore que encontra pelo caminho. Imenso, cogita pleitear para si a condição de país, no qual choverão sentimentos inenarráveis e a lua pairará sobre cabeças de amantes distraídos.  

Imenso coração


linhas da mão

Procuro tua sombra na réstia da lua, na resma de papel que dá pra escrever uns 500 poemas, ou cartas de amor, supondo que cada poema não seja, por si só, uma carta de amor, que aí já são outros 500. E parece que minha matemática tá meio ruim das pernas, só sei contar até dois, só sei cantar as tuas pernas, as minhas bambeiam quando penso se tu passou por ventura pela minha rua ou se tá desenhada nas linhas da minha mão.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A palavra


Preciso Do Seu Sorriso - Mariana Aydar/Chico César/Mestrinho

Noite³

A noite faz troça dos meus dois dedos de prosa que ousam homenageá-la, tão cantada que é por poetas de fina estirpe. Suspeita, dona noite, que quero é cantar a ti e usá-la de pretexto para me aproximar de teu mindinho. 

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Noite²


Noite 

Carlos Drummond de Andrade

Há tantas coisas germinando na noite, que nem sei como enumerá-las. À noite nascem as revoluções tanto as que vão triunfar como as que só se realizam em pensamento, e são quase todas. Os revolucionários viram-se, inquietos, na cama. E também os que se converterão, pela manhã, a religiões novas. E os amorosos. Análises emocionais levadas ao extremo da tortura arrastam-se pela horas lentas da noite. Como a noite é rica! A noite é o tempo de não dormir; é o de velar e procurar; de criar mundos. 
Demétrio quis prolongar a noite obturando todas as frestas do quarto, para que não entrasse a luz. Luz não entrou. Demétrio gozou da noite plena, continuada, e todos os pensamentos lhe floresciam. Construiu sistemas filosóficos. A escuridão era propícia a teorias políticas. Nenhum crítico foi mais perspicaz do que Demétrio, na literatura e nas artes. Aquela noite era fantástica. Demétrio quis experimentar as sensações de horror, êxtase, humilhação, glória, poder e morte. Morreu, mesmo no escuro. Tendo sentido a morte em seu interior físico, não pôde mais tirá-la de si. É o único morto, conscientemente morto, de que já ouvi falar nesta vida. A noite é fantástica.





Noite


Hors du temps


terça-feira, 24 de outubro de 2017

Maldita poesia²

Que processo é esse, o de fazer poesia, em que quase toco o céu da tua boca em um instante e no outro despenco, asas chamuscadas, em direção à labuta devoradora de horas e de homens? Um consumir e ser consumido pelo verso, buscando fazer da palavra um atalho, um fim e um meio, um tudo feito de nada além de palavras. Quimera que vela teu sono enquanto teus pensamentos caminham distraídos a ponto de não notarem o aceno de um vocábulo tímido, ou meu devaneio de imaginar teu hipotético sorriso ao tropeçar em um verso, contanto que não rale o joelho, claro.

Maldita poesia


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

prece noturna

As glórias tupiniquins, tantas vezes sangrentas, se acotovelam em pesadas páginas que preenchem a minha estante, e tudo que me convém é saborear Drummond, em doses homeopáticas, enquanto a noite guarda esperanças de que três ou quatro palavras me guiem a teu reino. Há que se desvendar a senha de hoje, pisar descalço o mesmo teclado que produz tons tão diversos, ao buscar a glória das palavras aladas que aspiram teus lábios ou a burocracia que devora impiedosamente as horas. E se pesam os olhos, furto uns versos a Vinícius e descaradamente transformo em ode a teu nariz.

Kafka


A Palavra Certa - Herbert Vianna

domingo, 22 de outubro de 2017

Geografia sentimental²

Reza a lenda que um desses meus versos (perdido, tadinho, na busca por teu cotovelo direito) foi bater em Madagascar. Lá, teria feito amizade com um Lêmure de nome Caetano e os dois se acostumado a ver o pôr do Sol juntos, enquanto o verso conta a Caetano das tuas 9472 qualidades aos olhos dele, verso.

Geografia sentimental

Para onde vão todos os versos não lidos? Que limbo abriga o sem-fim de palavras tortas que te erram e brincam de cupido zarolho? Tijolos de estrofes tronchas formam pontes e pontes de poemas que carecem de bússola, conduzem meu coração por esquinas que nem o google maps conhece, constroem uma nova geografia calcada em afeto, nas cidades em que cada verso queria se ver acompanhado de teus tornozelos, nas rotas que gerariam novos versos, em um processo de retroalimentação que teria de ser estudado por um novo Milton Santos.

sábado, 21 de outubro de 2017

Marcelo Falcão - Eu Amo Você - Tim Maia

sobre taras, café e vogais

pela réstia das tuas janelas via o céu, teus olhos de vidro e eu vidrado em tua saia, eu ia de uma ponta a outra do alfabeto e o que chegava mais perto de descrever era um suspiro, essa tara por vogais, essa necessidade de café, feito criança, não escondia o sorriso bobo ao perceber que os centímetros entre nós diminuíam

Recordar


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Para e repara!


ordem alfabética

Aos trancos eu canto Waldick, trago teu nome (em goles sentimentais) e nomeio teus acasos (ordem alfabética)

Tortura de Amor - Banda Sua Mãe

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Bukowski


Um quarto de devaneio

Todas as horas de labuta que sustentam os pilares da sociedade ocidental representam não mais que um pálido artífice ante a curva que faz tua orelha esquerda, e as carapuças que vestem senhoras respeitáveis e senhores de gravata, perfilados de Cuiabá a Pequim, timidamente almejam trajar-te, sem sucesso, em meio a quimeras suspensas no ar, que sonham ser sonhos em tua cabeceira, ou beira de mundo que te rodeie, dada a injusta proporção de terra pra água, e água salgada, que beija tantas margens do mundo e raramente te vê, no entanto, subindo a maré em fútil tentativa de ficar mais rente a um de teus vestidos, este sim, cioso de seu papel no mundo, mais concreto que o de minhas palavras não impressas que buscam envolver-te em uma dança que faça enrubescer as minhas tantas reticências...

terça-feira, 17 de outubro de 2017

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

a mordida²


a mordida

Sobre beijos, fartos, furtos, hora roubada, ora, morderia a maça do teu rosto, e isso é contravenção? invenção? atentado ao pudor, se eu puder, mordo a batata da perna, atento contra a moral, e os costumes, e costumo passear meus pensamentos por tuas têmporas, temporal, teu inconsciente, teu ente e teu ser, e se eu for, que não falte, afinal, a mordida

Almost monday

Era de lamber os dedos.
Os meus ou os dela.
De tirar os sapatos.
Os meus e os dela.

domingo, 15 de outubro de 2017

sábado, 14 de outubro de 2017

e mais e mais versos

sonho com versos maiores que eu
imensos
valorosos
certeiros
dos que que fazem valer aquele dia insalubre
e que, se não te trazem um diamante da terra de Drummond, ao menos te arrancam um sorriso naquele dia em que as nuvens cinzas insistem em prosperar
versos que sobrevivam à montanha de boletos
aos cabelos ralos
às noites de domingo
versos que te façam serenata e quiçá até tragam chocolates

Le soleil


















Nesses tempos nos quais por essas bandas o Sol anda inclemente!

Pinacoteca de São Paulo - Antropofagia

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

É o oriente

Quantos dias são teus em meu calendário?
Teu Voltaire na minha estante cassoa ligeiramente
Também rio desse tal de destino
E decoro uns versos
Que é pra rimar com as manhãs de fim do mundo
Com o segundo Sol dessas bandas

Bem sabes, é o oriente e teu charme shakespeareano completa a sentença
E minhas palavras-cruzadas
A letra da música (a essa altura um brega(mentira é The Killers))

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Drummond





















Faz, pois, poesia disso tudo.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Rosa

Tangencio o cotidiano
E faço um verso
Mania de metalinguagem
Tagarelar com tua sombra
Eu sobro às horas
Estranho o relógio
Traço um ponteiro que te aponte
Transformo em rosa
Ponte
Poente
Poema

domingo, 8 de outubro de 2017

a curva de cada tua vogal

poema é rascunho
e me rasuro todo
desenhando tuas vogais
parando em cada "a"
construindo vocabulários
subvertendo o espaço
arrastando tua última letra
pro ladinho da minha primeira
e mandando a coerência pras cucuias
que é coerência perto de um encontro vocálico desses?

sábado, 7 de outubro de 2017

fim de tarde

toda tua ausência me transborda
e pinta o céu do entardecer com as cores das tuas bochechas
culminando na necessidade de um chá
pra soprar enquanto esfria e ganhar álibi pro suspiro
acompanhado de um livro e de poemas que não são meus
mas que serão lidos à sombra da remanescência de teus cachos

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Pronto

La noche y todas las posilibidades, y tus ojos, y todas las infinitas posibilidades, cerca del mar, mi imaginación intentando hacerte en mis brazos...

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Sobre bancos à beira mar

E cada banco dessa cidade que namora o horizonte é um convite ao verso. Cada verso é dança que eu não sei dançar, mas te tiro ainda assim. Cada água com gaz é um delírio...

Maresia

Navego três dias em tua direção. Horas salgadas e a vontade de compartilhar o sal.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Categorias

Teu pé de pessoa, figura ilustre de romance pós-moderno, dona de categorias providenciais, e de cadeiras mágicas, semânticas

terça-feira, 3 de outubro de 2017

dois dedos de prosa

Da coleção infinita de coisas bobas por mostrar até o próprio infinito de se contemplar o céu

Troco por abraços


Drowning in love


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

até


Transito entre primeiras primeiras pessoas e busco, em tua singularidade, um plural

domingo, 1 de outubro de 2017

tomo toddynho ou derrubo a Bastilha

Teu calcanhar e as horas verde-oliva que ascendem aos céus, as páginas de Proust que buscam refúgio em teclados surrados, em cafés por tomar, tomadas da Bastilha... e eu, besta, passageiro do que restava da noite, acalentava desejos, de corar, e corava, menina, corava, de um tanto que nem a barba disfarçava, igual quando a gente diz uma coisa bem alto só pra disfarçar o pensamento fugidio que toma já conta de cada nossa borda, escrito na testa... testo, tento dizer três vezes baixinho o desejo, desde já, palavra traçando linhas geodésicas e riscando calçadas, descalças, despidas de nossos encontros

E até a prosa pode ser um poema disfarçado

"Sois toujours poète, même en prose..."
Baudelaire