sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Meu poema de Drummond

Meu poema de Drummond é tão bom que nem é mais meu. 
Diz umas coisas que não consigo. 
Consegue alcançar distâncias que minhas pernas ignoram.
Vai até páginas do dicionário que não enxergo.
Beija tua alma de um jeito que minhas palavras dão conta não.
Conta uns causos que me deixam perplexo.
Fala do teu sorriso de um modo que até me apaixono de novo.
E esse meu poema de Drummond, vai ver, é poema de Drummond que é meu.
Vai ver Drummond escreveu um poema só pra eu te enviar.
Vai ver o poeta de Itabira captou, atemporalmente, o brilho nos olhos de quando te imagino.
E imaginou um poema, que seria imaginado por mim enquanto te imagino.
Eita, esse tal poema de Drummond é porreta!

Desse jeito


5 a seco - síntese - o dia de encontrar você [OFICIAL]

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Folha A4

Folha A4
cabe não
transborda
derrama
extrapola
extra, extra
é jornal, já
seção cultural
horóscopo
teu signo
chinês o meu
mas também não
cabe não...
tempos digitais
ais por satélite
fibra ótica
óia, moça
coração na rede
mil casas, já
asas a mil
dicionários online
pra dar conta
busca no google
talón
aprendi dizer
espanhol
castelhano
teu calcanhar
o meu de aquiles
eita
tira um acento
talon
francês, já
é muita anatomia
coração guenta não
pede arrego
batida de trem

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Gente infinita


Sobre línguas!

E, vai ver, aprender um novo idioma é só desculpa pra descobrir novos meios de descrever cada uma das tuas sutilezas!

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

domingo, 25 de novembro de 2018

Sorriso-Sol

Cabe um livro na mochila
cabe um verso
um desejo num domingo chuvoso
cabe o Sol num sorriso
cabe até um palavrão, de leve
espanto!
pode um sorriso desses?
cabe no peito, digo, o coração?
cabe não
extrapola
pula, pulula
passeia, sem guarda-chuva
guarda é o mundo
salta poça d'água
salta tempo e espaço
por um sorriso-Sol

Viajar? Para viajar basta existir.


























Bernardo Soares

Viajar? Para viajar basta existir.

L. do D.
Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
«Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo.» Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o princípio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens têm paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como às outras. Para quê viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e género das minhas sensações?
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.
s.d.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.
  - 387.
"Fase confessional", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol II. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Três da tarde

Às três da tarde, erijo monumentos a teu dedo mindinho, meço a distância até a sorveteria e preencho esse espaço com poemas de cupuaçu, siriguela e imbu, poemas sobre tu, sobretudo sobre a sombra da tua mão...

VIDEOCLIPE | Bazar Pamplona - Era Dela

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O verso e o labirinto

Donde surge a obsessão pelo verso perfeito que te arrebate e te arranque um meio-centímetro que seja do chão? Em que pé e cabeça se sustenta o desejo constante de que teu pé paire um tantinho no ar e de que tua cabeça delire um meio-segundo quando teus intensos olhos dançarem sobre o tal verso? E aí cortejar o verso é dar continuidade a esse esforço diário de emprestar cores a um cotidiano tantas vezes cinza. Oferecer o verso é tomar emprestado um giz de cera e pintar a borda da folha. Escolher uma palavra é a súplica de que ela se vista de minhas intenções, de que não se desvio no caminho e não compartilhe do meu ar de bobo ao enxergar tuas bochechas. Como ela te chega, se te chega,e  como a recebe, se recebe, é esse emaranhado de linhas que busca atravessar o labirinto. A esperança de que o verso seja o fio de Ariadne. Ou as asas de cera, efêmeras, que permitam sobrevoar o labirinto. Mas tu é Sol, e eu fascinado...

Nouvelle Vague - In a Manner of Speaking

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Sobre elogios


Pronomes possessivos

Em algum momento os pronomes possessivos se misturaram, e eu já não sabia se o verso era meu, por emprestar os dedos ao teclado, se era teu, como destinatária quiçá involuntária, se era eu quem pertencia ao verso, como vassalo e instrumento da Vontade da Palavra ou até se tu era refém do verso, e o resgate era o próprio verso a ser escrito... eita, esse último ficou confuso!

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Vocabulário

Contorno o pragmatismo reinante em quatro cantos, prefiro o contorno de teus tornozelos, teu zelo pelas palavras, palavra, torno meu reino em cavalo, Rocinante, e tu, Dulcineia já, passeia por meu vocabulário....
Vocabulário--> voca --> boca
Pronto, achei um caminho.

sábado, 17 de novembro de 2018

Neruda e sábado


"Me refugié en la poesía con ferocidad de tímido."

Pablo Neruda

Mentira, é de tu!


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Tu

Gosto de "tu"
palavra íntima
pequena
singela
que arrasta pra perto
e diz tanto...
no tom certo, parece elogio
"ei, tu"

gosto de tu
carrega carinho
parece convite pra dizer mais
soa como um abraço
une consoante e vogal
é quase um convite prum café
poema de uma só sílaba

ANAVITÓRIA part. Tiago Iorc :: Ao vivo no Circo Voador :: 01/11/2016

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Skank - Algo Parecido

Panapanã

e redijo, verso e prosa, coisas de céu da boca
e redigo , valsa e volta, bocas de céu, ô coisa...
trem no estômago
cabe já um tantão de borboleta
panapanã
descobri o coletivo
trem é esse?
sentado no bus
passeio meu pensamento
bichin
por teu colo
teu colorir

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Breve

Por um breve momento, condenso palavras em uma garrafa de água com gás, por um breve momento, confiro se meu horóscopo de hoje bate com o teu, por uma breve eternidade, articulo romances em Arial 12 com teu nome escondido em cada uma das linhas, pelo tempo de um café, suspiro trinta e nove vezes e faço da borra um poema, pelo tempo de um suspiro, entrelaço reticências e sonho de olhos fechados teu busto...

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Prece-poema

No subsolo da biblioteca, eu labuto o texto. Sob centenas, milhares de livros, eu busco o acaso do encontro com a palavra. Almejar é tudo o que me é permitido fazer. Ansiar pelo toque suave de uma proparoxítona que seja brisa e dance ao luar, enquanto emula teus calcanhares. Ou o assombro tonitroante de algum substantivo, imponente, desvelador de verdades que a alma busca disfarçar. As palavras valsam sobre a minha cabeça e contam casos de amor e solidão, deslizam até o bebedouro e são, já, fonte natural de tudo o que existe, chovem, ignorando o teto que me abriga, e encharcam a tela do computador com o esboço de uma prece-poema. 

Poeme-se


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Cœurs brûlants

"Notre monde n’a pas besoin d’âmes tièdes. Il a besoin de cœurs brûlants".
---- Albert Camus, Combat (éditorial du 26 décembre 1944)

Miguel Araújo e Tiago Nacarato - Valsa Redonda (ao vivo no Estúdio Chiu)

sábado, 3 de novembro de 2018

Exagerado²

Te endereço mil poemas
anteontem
envelopo o coração
cai o céu
conjuro nuvem de algodão doce
juro versos de Quintana
dou Bandeira
faço outra menção às tuas panturrilhas
pudesse, fazia um quadro
um poema
copiava Maiakovski
mandava imprimir
10 mil cópias
um suspiro
aprendia francês
pra ter verso de Rimbaud
misturado na receita
no percurso
no translado
e eu do lado
das palavras
dos versinhos
me esgueirando em cada linha
espiando teus acasos
rimando
minhas reticências
com teus cachos

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Drops de menta

Vai, semeia verso, e colhe, pois, poesia, sussurra ao céu palavras de sono e sonho... e desliga o despertador!

A imortalidade