sexta-feira, 31 de maio de 2019

Flerte com o absurdo²

Flerto com o absurdo
escrevo à pena
transcrevo a letra de uma música do Cazuza
desenho teu joelho
catapulto versos via satélite
fibra ótica
mas olho mesmo é pro horizonte
belo
quase tal qual teu nariz
desenho com giz
obra pós-moderna
desconstruída
só pra construir de novo
pelo calcanhar
o meu de Aquiles
daqueles de fazer verso corar
decorar poema de Drummond
flertar com o absurdo
empurrando a pedra e sorrindo

E cada poema é um caminho


quarta-feira, 29 de maio de 2019

Rimando Lua

Ando meio assim, de lado, lado de lá da rua, rimando Lua e espiando São Jorge, quase São João, Pedro, que não me empresta a chave, e quase pulo fogueira, três pulinhos e Grito por São Longuinho três vezes se der de cara com tua cara, caríssima figura.

Plante, pois, poesia


Lau e Eu - Tremores (clipe oficial)


terça-feira, 28 de maio de 2019

segunda-feira, 27 de maio de 2019

ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU - Carlos Drummond de Andrade

Sobre vogais

Degusto teu nome, apinhado de vogais, encarrilhado de vogais, e digiro meus ais, e mais, mordo até uma consoante tua (péra, essa é minha também), consoante meu anseio de agarrar cada "a", de aparar bem na boca cada encontro vocálico, formar um ditongo mimoso contigo

domingo, 26 de maio de 2019

E, ainda assim, ele salta

"O filosofo é o sujeito que a família amarra à terra
para que não levante voo." - 
Louise May Alcott

To fall in love or feet in the air


Breve


sábado, 25 de maio de 2019

May

In May
maybe we can walk together
in my avenue of purple dreams
may the weather be nice, then
so the wind (and me) can kiss your hair

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Dia do abraço!

Abraço a palavra, amasso a palavra, arrocho a palavra, afago a palavra e me afogo na palavra.
Abraço a palavra, vermelha a palavra, palavro a palavra.
Abraço  a palavra, lambo os dedos da palavra, encabulo a palavra, cabulosa, ela, eu me acabo e começo na palavra.
Palavra, juro que oro pela palavra, e, reza a lenda, até Deus é verbo.
Abraço a palavra, habito a palavra, almejo o hálito da palavra.

E te nomeio palavra.

My meow meow


terça-feira, 21 de maio de 2019

Boa Esperança

Ao cabo do dia, minha Boa Esperança navega versos de cidreira... e combina com o vento de maio um modo de fazer chegar a teus olhos um tantinho desse esboço de esboço de arte que almeja tuas sobrancelhas

Desvende-se


domingo, 19 de maio de 2019

Quase cantada

Dia desses te escrevo uma cantada quase tão bonita quanto a de Ferreira Gullar
quase tão bonita quanto a parte de trás do teu joelho
quase tão charmosa quanto as voltas que a palavra faz pra imitar teu cabelo
quase tão apetitosa quanto a batata da tua perna
quase tão brilhante quanto meus olhos quando te veem
quase tão veloz quanto o sorriso que vem em seguida

Cantada - Ferreira Gullar

Você é mais bonita que uma bola prateada
de papel de cigarro
Você é mais bonita que uma poça dágua
límpida
num lugar escondido
Você é mais bonita que uma zebra

que um filhote de onça
que um Boeing 707 em pleno ar
Você é mais bonita que um jardim florido
em frente ao mar em Ipanema
Você é mais bonita que uma refinaria da Petrobrás
de noite
mais bonita que Ursula Andress
que o Palácio da Alvorada
mais bonita que a alvorada
que o mar azul-safira
da República Dominicana

Olha,
você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro
em maio
e quase tão bonita
quanto a Revolução Cubana


The Killers - Read My Mind (Official Music Video)

Smile!


sábado, 18 de maio de 2019

Muro - Antônio Cícero

E se o poema opaco feito muro
te fizer sonhar noites em claro?
E se justo o poema mais obscuro
te resplandecer mais que o mais claro?

Curva

E eu, que sempre fui apaixonado por curva, evoco a curva da letra "a" que compõe o teu nome, a curva do teu calcanhar, a curva do vento que me leve até a curvinha da tua orelha...

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Meta

E se tu é minha meta, minha metalinguagem, meta-poesia, meu bom dia, dia bom, meu bom-bom, para além do bom, para além, um passinho a mais, chega perto, pé-com-pé, além-dança, além-beijo, beijo além da boca, boca que se debruça sobre a boca e volta à língua, e recriamos a metalinguagem.

Mulamba - Interestelar

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Christian-Schloe-portrait-of-a-heart


que fazer?

Faz sentido não
faz de conta
conta estrela
(prometo que não nasce verruga)
faz careta então
chá de capim-limão
faz meu coração disparar
faz pose pra foto
(sorri que eu derreto feito sorvete)
faz poema
pão de queijo até
faz o tempo parar com um beijo

quarta-feira, 15 de maio de 2019

terça-feira, 14 de maio de 2019

linha

alinhadas
palavras
alinhavadas
deslavadas
elas

lavam louça comigo
ouvem Marisa Monte
dançam forró pé-de-serra

desalinhadas
agora

perdemos a linha
elas e eu
pensando tu e eu
e elas no tal pé da serra
já eu no teu

Ferreira Gullar


segunda-feira, 13 de maio de 2019

Sete léguas

Em sete léguas, quantas vezes é possível escrever teu nome na areia? Quantas meias encarrilhar em oração? Sete mil velas de São Jorge cabem, quiçá? E quiçá tem esquina a rodo, pra se ter esperança que teu calcanhar surja ao dobrar de uma delas... e veja só, se cada esquina é esperança, que mundo bonito se descortina, pros olhos sorrirem, mesmo quando carregarem sete braços d'água e sete dias da semana...

Break the glass


domingo, 12 de maio de 2019

Midnight


Inúmeras realidades

"Tudo existe lado a lado. É como se fossem desenhos gigantes mudando o tempo inteiro. Da mesma maneira, devem existir inúmeras realidades. Não apenas a realidade que percebemos com nossas obtusas sensibilidades, mas um tumulto de realidades arqueando-se uma encima da outra por dentro e por fora. É só o medo e o puritanismo o que nos leva a acreditar em limites. Não existem limites. Nem para pensamentos, nem para sentimentos".


Ingmar Bergman, "Sonata de Outono” (1978).

sábado, 11 de maio de 2019

Setenta e duas noites

Por setenta e duas noites seguidas fui dormir imaginando teu nariz, e tinha sonhos cubistas, pendendo por vezes para o surrealismo, nos quais o mundo se vertia em uma terra de pés-de-manga, e cada manga era mais amarelinha e doce que a outra, e dava pra subir em cada uma das árvores e enxergar teus óculos-de-Sol esparramados em uma dessas cadeiras preguiçosas esperando pela dona que partira para ver os lêmures em uma ilha de nome burlesco. Por vezes aparecia um elegante garçom, como nos comerciais de Tang, e me oferecia um suco de manga que era fantástico a ponto de o sabor percorrer o meu corpo e chegar até o dedinho do pé, e subia eu mais uma vez em uma das árvores em busca de te avistar para te oferecer aquele bendito néctar que por certo era obra de algum jardim mitológico, mas dessa vez encontrava era teu chapéu-de-Sol, curtindo o vento enquanto a dona passeava pelas ruelas d'alguma charmosa e de nome impronunciável cidadela do leste europeu. E o pôr-do-Sol nesse mundo era tão pleno, deitado no mar, que a impressão que se tinha era a de que o Sol oferecia uma ponte na água que me levaria inevitavelmente a teus passos e finalmente encontraria teu encantador nariz.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Metafísica

Passo da física à metafísica, e passo, pois, a língua na tua alma. Quando sentir aquele arrepio repentino, pronto, fui eu mordiscando a orelha esquerda da tua bela alma.

Choro Pra Cinco - Antes Que Me Esqueça | Sofar Brasília

quarta-feira, 8 de maio de 2019

TIAGO IORC - Me Tira Pra Dançar

Balão de pensamento



















puff... e brota um balão sobre a minha cabeça, e brotam 
teus lábios dentro do balão, passeando por meus pensamentos, 
desfilando por palavras rubras, sussurrando sonhos de arrepiar a nuca.

terça-feira, 7 de maio de 2019

Leminski

nascemos em poemas diversos
destino quis que a gente se achasse
na mesma estrofe e na mesma classe
no mesmo verso e na mesma frase
rima à primeira vista nos vimos
trocamos nossos sinônimos
olhares não mais anônimos
nesta altura da leitura
nas mesmas pistas
mistas a minha a tua a nossa linha

– Paulo Leminski, do livro “Não fosse isso e era menos /não fosse tanto e era quase”. 1980.

Tsuru




















Reza a tradição nipônica que se você dobrar mil tsuru um desejo
seu se verte real. Será que a regra vale pra mil poemas?

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Que tal pra dançar?


Sobre sonhos, ancas e dentifrício, num delírio dummondiano

Do meu sonho com tuas ancas, escancaro os dentes, de morder o ar, de arder entre as páginas de um livro que carregue teu nome, unindo anúncio de dentifrício a teu calcanhar rosa e puro, num passeio de Drummond a meus devaneios... eios, deva, eu devia escrever um poema sobre as tuas cadeiras, e os mil dentes seriam meus, uns mil poemas, teus, declamados em mordidas.

sábado, 4 de maio de 2019

Tatear o mundo


Some poetry

You know, you should try some poetry... with tea, maybe, on a night of May, or travelling to Bangkok... you should paint the world with the colors of your now favorite music, and pay attention to a tree on your way home... there's always some poetry hidden in weird places, like the spot a kitty is staring at or the corner of that street you never noticed... you just have to have eyes full of poetry, cause they are poetry itself...

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Maio chuvoso

Maio se precipita e as tesourinhas continuam alagadas. Meu barquinho veleja a saudade e brinca de pôr-do-Sol. Notícias no jornal dão conta das hecatombes que espreitam de luneta. A poesia nunca foi tão necessária. O café sustenta as horas de ponto e amacia os suspiros. Careço eu de fazer versos. O trânsito é impiedoso, mesmo quando o verbo, por vezes, decida não transitar. Suspiro. Ora, hoje me lembrei de teus dedos, e calha à imaginação descobrir se das mãos ou dos pés, e cantarolei músicas de dedos. Cabe mais uma vez à imaginação desvendar o que isso significa. As ruas alagam e meu coração constrói jangadas. O país afunda e construo boias de poesia.

Wanna try?