sábado, 11 de maio de 2019

Setenta e duas noites

Por setenta e duas noites seguidas fui dormir imaginando teu nariz, e tinha sonhos cubistas, pendendo por vezes para o surrealismo, nos quais o mundo se vertia em uma terra de pés-de-manga, e cada manga era mais amarelinha e doce que a outra, e dava pra subir em cada uma das árvores e enxergar teus óculos-de-Sol esparramados em uma dessas cadeiras preguiçosas esperando pela dona que partira para ver os lêmures em uma ilha de nome burlesco. Por vezes aparecia um elegante garçom, como nos comerciais de Tang, e me oferecia um suco de manga que era fantástico a ponto de o sabor percorrer o meu corpo e chegar até o dedinho do pé, e subia eu mais uma vez em uma das árvores em busca de te avistar para te oferecer aquele bendito néctar que por certo era obra de algum jardim mitológico, mas dessa vez encontrava era teu chapéu-de-Sol, curtindo o vento enquanto a dona passeava pelas ruelas d'alguma charmosa e de nome impronunciável cidadela do leste europeu. E o pôr-do-Sol nesse mundo era tão pleno, deitado no mar, que a impressão que se tinha era a de que o Sol oferecia uma ponte na água que me levaria inevitavelmente a teus passos e finalmente encontraria teu encantador nariz.

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