domingo, 29 de março de 2020

De reticência em reticência

De meus mundos interiores, minha gaveta de dominós, meu baú de quimeras, os que mais me atraem são aqueles em que teu passo reina em cadência de sexta-feira à tardezinha, em trilha de banda desconhecida, mas suave como a noite, em literatura rabiscada na folha do livro, que é pra construir conjectura mais tarde, em filme por assistir quando o caos baixar a guarda por uns segundinhos, em metafísicas de chocolates, 70% cacau, água com gás e dentes que batem com ansiedade... de todas as minhas reticências, as que mais aprecio são as que dançam com teus passos.

Viva


sexta-feira, 27 de março de 2020

chá e verso

E, se tu lembrar de mim, acalenta esse devaneio, anota no pé da página o sorriso indisfarçável que certamente há de me acometer por visitar um de teus pensamentos, passa um chá e convida um verso pra te fazer companhia em meu lugar ou, e as árvores de meu jardim imaginário irão todas florir, me convida pra esse chá que o verso eu mesmo levo.

by Disha Dua


quinta-feira, 26 de março de 2020

Kathrin Honesta


Ferreira Gullar - o gato

“O gato é uma maquininha que a natureza inventou; tem pêlo, bigode, unhas e dentro tem um motor. Mas um motor diferente desses que tem nos bonecos porque o motor do gato não é um motor elétrico. É um motor afetivo que bate em seu coração por isso ele faz ronron para mostrar gratidão. No passado se dizia que esse ronron tão doce era causa de alergia pra quem sofria de tosse. Tudo bobagem, despeito, calúnias contra o bichinho: esse ronron em seu peito não é doença – é carinho.” (texto de: Ferreira Gullar)

quarta-feira, 25 de março de 2020

sobre poema de Neruda

brinco de fazer poema de Neruda, rabiscar no papel a tua pele, pelejar mais um minuto contra o sono pra te sonhar acordado, jogar dados e do acaso sacar um sorriso só porque lembrei do jeito que você ri, de fazer inveja a poema de Neruda

Neruda, primavera e...


segunda-feira, 23 de março de 2020

República Checa


o verso e o vírus

o verso,
anti-séptico,
devora o vírus
vira receita
o verso
anti-cético
três doses ao dia

sábado, 21 de março de 2020

Courage!


dia mundial da poesia

dia de poesia, de cortejar teu nariz, o verso, almejar um tantinho além do que a palavra aparentemente diz, dizer com reticências, sonhar com reticências, dançar um tango em poema, traçar as linhas que almejem o infinito dos teus olhos, rimar tuas bochechas, os teus silêncios, teus vocabulários, até encabular o verbo, de ficar vermelho

MPB - Tim Maia - Ela partiu

sexta-feira, 20 de março de 2020

água e sabão

água e sabão
água e sabão
álcool em gel
bicho-papão

espirra não
limão com mel
lavar a mão
chá com limão

bem aqui


Sua alma


quarta-feira, 18 de março de 2020

Quarenta

Por quarenta dias eu choveria na tua horta, dilúvio de poesia, garoaria verso na tua janela, em quarentena, chá com limão, café com pão, quarenta poemas por minuto, pulso acelerado, coração pulsando linhas em zigue-zague, colina acima, arca ao léu, eu choveria no céu da tua boca, até virar palavra, até que a palavra escrita fosse "beijo".

Jarek Puczel


terça-feira, 17 de março de 2020

Matilde Campilho - DIA DE SÃO TOMÉ

DIA DE SÃO TOMÉ

Poderia escrever teu nome

70 vezes seguidas

Mas isso não espantaria

a saudade que sinto

de dizer teu nome

entre sal e dentes

Isso em nada iria melhorar

a falta que faz teu corpo

dentro da sombra invisível

que diariamente se senta

a meu lado no restaurante

às 11 horas da manhã

Ou no lugar direito do automóvel

quando dirijo até a repartição

pública das finanças do estado

O tal Estado escavacado

e tão sobrevalorizado

Escrever teu nome

repetidamente

primeiro em linhas verticais

depois horizontais

e mais tarde transversais

Como quem espera

algum dia ser o vencedor

do Four in a Row

de forma alguma substitui

o ruído aquático que sucedia

no interior de minha boca

quando a palavra Tu

reverberava entre palato

e água do mar

Batia em meus dentes

e ia parar no furo de alguma rocha

Sim o teu nome

entre um mergulho e outro

O teu nome engasgado

de pirolitos e gargalhadas

O teu nome

batendo em tua cara

exatamente ao mesmo tempo

que o feixe de sol

das 5:28 da tarde

O teu nome

roubado uma vez e outra

por nosso fiel pelicano

O nome do ministro

demissionário

é tão fácil de dizer

Desculpem se não digo

As linhas que cosem

partidos políticos

são tão fáceis de enfiar

no joguinho das crianças

E que simples é o resultado

Muito mais simples

que o resultado

de nosso velho marcador

Com partido político

dá sempre zero a zero

a vantagem do serviço

Com partido alto

dá sempre dez a dez

e vantagem do amor

Você levou meu samba

e meu mensageiro

Você deixou os sapatos

a sombra desalojada

e um dialeto muito novo

que devo utilizar agora

para não dizer teu nome

entre rajadas de revolução

e goles de cerveja junina

Um dialeto umas vezes digno

e outras vezes não

que entrego agora

ao bico do pelicano eterno:

Vai pássaro, leva meu grão

até as escadinhas do santo

que hoje celebra seu nome

entre os doze favoritos.

#matildecampilho

Monsieur Periné - Bailar Contigo (Video Oficial)

sábado, 14 de março de 2020

sobre uber, google maps, noite e saberes

invoco teu nome e a noite fria esfrega as mãos, as minhas, que a noite se compadece dos apaixonados, desde os tempos mais remotos, e empresta uns versos, desses que rimam com a Lua, desses que fazem até a solidão sorrir um pouquinho... se tu soubesse dos planos que dona noite e eu traçamos pra tua orelhinha direita, nunca mais olharia pra noite da mesma forma, se soubesse que quando as horas avançam os planos se confundem com sonho e que, via sonho, universos se conectam, num já mencionado verso gigante... ah, se tu soubesse que meus pensamentos transitam por horas de pouco trânsito, são uber da madrugada, fazendo bico de transportar verso, buscando tua cintura no google maps.

On the walls


quinta-feira, 12 de março de 2020

extrapoema

coração extrapola o poema
extrapoema
poema em forma de coração
o coração é o próprio poema
que se extrapola
poema metalinguístico
e o coração encontra a língua
ao te oferecer meu coração
te dou minha língua

quarta-feira, 11 de março de 2020

Together- by Faried-Omarah


3x4
























Te dispo e te trajo em pensamento
visto teu sorriso em 3x4
doze badaladas vezes dois
na valsa das horas

Bésame Mucho- Monsieur Periné (En vivo)

terça-feira, 10 de março de 2020

república quântica

Subverto o espaço, proclamo a república quântica e reclamo já tua panturrilha a meu alcance, e clamo, via google translate, a divindades de aquém e além, por um minuto, que dure bem mais que um minuto, na companhia dessa tua panturrilha, nesse espaço subvertido e subversivo, vertido espaço poético, dentro do qual a língua tem funções para além do que nossa vã filosofia pode eventualmente conceber.

Nadinha


domingo, 8 de março de 2020

Do it anyway


big-bang

escrevo teu nome num papelzinho, dobro, redobro, volto a dobrar, conto até três e faço um desejo. Meu cavalo e meu reino se tu adivinhar que parte do teu corpo desejei beijar até o próximo big-bang.

multiverso

meu suspiro te busca no multiverso
é verso
um bilhão de domingos lado a lado
e desse lado da galáxia caço teu mindinho
teu nome no diminutivo
baixinho

sexta-feira, 6 de março de 2020

Posologia


Dancemos, pois




















— Ramai, no livro "Eu te amo como uma criança dirigindo um carro". (Edição do autor; 1.ª edição [2019]).

quinta-feira, 5 de março de 2020

Dos rumos

E, te pensando, me foge a palavra, assim, do nada, ela dobra uma esquina, atravessa três quadras e salta o muro de dona Teresa. Teimoso, me lanço ao encalço da bendita. Calço as asas de Mercúrio e voo por entre telhados da vizinhança. A palavra é veloz, caçoa dos paralelepípedos, tripudia das fachadas sisudas, dança com cortinas que namoram janelas. Empresto as flechas a Cupido e busco acertar em cheio a palavra, em pleno ar. Por óbvio, a palavra está no ar, ululante. E minha trilha de pensamentos é escada para o céu. A palavra ri das flechas. Ela própria é flecha, seta que, ainda quando pensamento em minha cachola, mirava já teu calcanhar. A palavra é confidente do filho de Vênus, é verbo e vontade. Atingido sou eu, pela flecha, seta, palavra. Tonto, fico bobo. Sempre fico bobo quando esse pensamento me acomete. Aí a palavra me escapole, naquele momento em que fico boquiaberto, inventa de passear por entre as ruas que carregam teu nome pavimentado a suspiro. 

Tenho em mim todos os sonhos do mundo


quarta-feira, 4 de março de 2020

caos e café

no caos do café eu passo meu dia caçando tua cintura, caço é cafuné, faço da cana rapadura, de clichê faço pintura, pinto um verso da cor da céu da tua boca

El Efecto • Trovoada (part. Nina Rosa, Ingra da Rosa, Thiago Kobe) ||| M...

domingo, 1 de março de 2020

Sonhe, pois²

Sonhei que saltava a linha do Equador e te alcançava num trópico, só pra gente dançar sobre Greenwich, renomear constelação e retraçar as rotas marítimas, descobrindo um novo continente, um tantinho pra lá de Pasárgada, perto de Macondo.

Sonhe, pois