quinta-feira, 5 de março de 2020

Dos rumos

E, te pensando, me foge a palavra, assim, do nada, ela dobra uma esquina, atravessa três quadras e salta o muro de dona Teresa. Teimoso, me lanço ao encalço da bendita. Calço as asas de Mercúrio e voo por entre telhados da vizinhança. A palavra é veloz, caçoa dos paralelepípedos, tripudia das fachadas sisudas, dança com cortinas que namoram janelas. Empresto as flechas a Cupido e busco acertar em cheio a palavra, em pleno ar. Por óbvio, a palavra está no ar, ululante. E minha trilha de pensamentos é escada para o céu. A palavra ri das flechas. Ela própria é flecha, seta que, ainda quando pensamento em minha cachola, mirava já teu calcanhar. A palavra é confidente do filho de Vênus, é verbo e vontade. Atingido sou eu, pela flecha, seta, palavra. Tonto, fico bobo. Sempre fico bobo quando esse pensamento me acomete. Aí a palavra me escapole, naquele momento em que fico boquiaberto, inventa de passear por entre as ruas que carregam teu nome pavimentado a suspiro. 

Nenhum comentário: