domingo, 31 de outubro de 2021

sábado, 30 de outubro de 2021

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Pessoa

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

1928
Fernando Pessoa, Poesias Inéditas (1919-1930)

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

bolo de fubá

afobo, 1, 2, 3, a palavra, bolo de fubá, fabuloso, digo, teu joelho, em meu sonho afobado, minuto, já, de acordar, trabalhar pra comprar bolo de fubá, e livro de Drummond, pra sonhar o teu mindinho em companhia de palavra apetitosa, pois

terça-feira, 26 de outubro de 2021

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

sílabas

cultivo sílabas em segredo, treinadas para deixar tuas panturrilhas vermelhas, rimadas em pé do ouvido, ouvidas na imaginária voz do Abujamra 

Marcelo Camelo - Santa Chuva

Lee Sangsoo / Stretching Siamese Cat, 56×21×52 (h) cm, 2021


 

sábado, 23 de outubro de 2021

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA, in POESIA REUNIDA (Quetzal, 2012)

O meu amor não cabe num poema — há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
ou quartos que os gestos não preenchem.

O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto —
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura da mão que protege a chama que estremece.

O meu amor não se deixa dizer — é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.

O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras
com a nudez do teu nome — é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. Nenhum poema
podia ser o chão da sua casa.

MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA

Hiroki Nishiyama


 

terça-feira, 19 de outubro de 2021

domingo, 17 de outubro de 2021

verbo intransitivo

trago meu verbo predileto para um passeio intransitivo, e, de vogal a consoante, vagamos no domingo nublado, de vogal a consoante, até que o espírito absoluto se realize no ponteiro e a segunda mostre sua sombra, mas não sem que antes um devaneio espie pela fresta do verso e vislumbre tuas coxas.

sábado, 16 de outubro de 2021

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

terça-feira, 12 de outubro de 2021

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

domingo, 10 de outubro de 2021

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

cheiro

quero cheirar a cola do teu sapato

teu salto baixo ou alto

embaixo do teu nariz

o pó do giz com que te escrevi um poema

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

De pronto




 

mais cinco minutos

gasto aqueles cinco minutos antes do sono, em que os pensamentos vagam sem rédeas, traçando conjecturas acerca da natureza de teus tornozelos, da textura, da paleta de cores que minha caixola pode usar pra construir tua panturrilha

terça-feira, 5 de outubro de 2021

sapo e pato

saio, nem calço o sapato, eu sapo, no encalço, no enlaço, do teu laço, alço, então, voo, e de sapo passo a pato, em um passe de mágica, passo de pato, eu parto, pro teu calcanhar

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

domingo, 3 de outubro de 2021

Ramai


 

Janela


 

Garupa - Luiza Leite

Garupa

Me leve na garupa da sua bicicleta
para longe do agito 
ao abrigo do tempo 
onde o silêncio nos espera

 tire minha roupa sem demora
 me ame para sempre neste agora
 enquanto a escuridão nos devora
 e os cupins perdem as asas lá fora

Luiza Leite

sábado, 2 de outubro de 2021

sexta-feira, 1 de outubro de 2021