sábado, 28 de novembro de 2020

pedaço de caminho

visto o pedaço de caminho que dançava com teus passos

e tem noite em que a Lua ilumina o traçado de meu pensamento

noite em que penso teu traço

desenho coração em suspiro

Mario Benedetti - otra ciudad


 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Galeano sobre Maradona

“Maradona tiene que cargar con una cruz muy pesada en la espalda: llamarse Maradona. Es muy difícil ser Dios en este mundo, y más difícil comprobar que a los dioses no se les permite jubilarse, que deben seguir siendo dioses a toda costa. Y el de Maradona es un caso único, el deportista más famoso del mundo, a pesar de que hace años que ya no juega, esa necesidad de protagonismo derivada de la popularidad mundial que tiene. Quiero decir que es el más humano de los dioses, porque es como cualquiera de nosotros. Arrogante, mujeriego, débil… ¡Todos somos así! Estamos hechos de barro humano, así que la gente se reconoce en él por eso mismo. No es un dios que desde lo alto del cielo nos muestra su pureza y nos castiga. Entonces, lo menos que se parece a un dios virtuoso es la divinidad pagana que es Maradona. Eso explica su prestigio. Nos reconocemos en él por sus virtudes, pero también por sus defectos”. *

“Se convirtió en una especie de Dios sucio, el más humano de los dioses, eso explica la veneración universal que él conquistó más que ningún otro jugador. Un Dios sucio, que se nos parece: mujeriego, parlanchín, borrachín, tragón, irresponsable, mentiroso, fanfarrón, pero los dioses por muy humanos que sean no se jubilan”. *

* Eduardo Galeano, periodista y escritor uruguayo (1940-2015)

Thankful


 

terça-feira, 24 de novembro de 2020

morro

morro de amor no poema de amor, na esquina da padaria, na confeitaria, na metafísica das árvores, ao abrir e fechar a geladeira, eu morro de amor no morro, e na linha reta, na segunda pessoa do caso reto, na linha curva de Quintana, na curva do teu joelho

Dramorgia - Maria Cecília Mansur

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

domingo, 22 de novembro de 2020

Sobre abraçar²

 Abraço o espaço, que é espaço-tempo, abraço o espaço vazio, e preencho com tua sombra, de música francesa, de música, eu, então, abraço a música, abraço teu nome em cada música, batizo cada música com teu nome, até chegar ao ponto de renomear mp3

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Troco

Troco minha única balinha de café por um teu cafuné. E nem foi de propósito a rima, trocava também por meu livro de Pessoa, gasto, porém.

Philip Glass - Tearing Herself Away

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Dickens

 "Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos / tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós"

Dickens

domingo, 15 de novembro de 2020

MARIA TERESA HORTA - JOELHO


Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho

Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio

Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo

Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo

Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo

E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento

Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas

Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas.

MARIA TERESA HORTA

sanidade, gatos, Drummond e orelha, oras

 passei foi dia pensando que pensar tua orelha é um poema por si só, embora só esteja é eu mesmo, sem tua orelha, mas com poema, de Drummond, mesmo não sendo substituto do mesmo naipe, devo dizer, quiçá em poema, e aí não de Drummond, mas meu, ou teu, se assim fizer sentido, e se o sentido do poema for a destinatária, e há destino nisso? Digo, destinar meus poemas, que não são de Drummond, a uma pessoa, enquanto leio Drummond, em troca imperfeita da sensação da orelha dessa pessoa? Inda acho que orelha dá pra morder e encontrar um tantinho de carne, enquanto poema eu fico aqui mordendo o ar e fazendo com que meus gatos se preocupem com minha sanidade

sábado, 14 de novembro de 2020

like


 

cadência

tens uma cadência de poema que me convida a querer namorar a palavra, palavra teu calcanhar, em caminhos de eu querer colher flor em cada jardim desse vasto mundo. E acalento cada pedaço de verso como quem encontra um bichano manhoso bem na tua rua, ou a tua rua é caminho pelo qual passeia o suspiro disfarçado de verso.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

terça-feira, 10 de novembro de 2020

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Gentileza


 

suspiro

Traço-poema pôr-do-Sol sete passos palavra

joelho cotovelo panturrilha

saudades saudades

suspiro


sábado, 7 de novembro de 2020

Hope - Emily Dickinson


"Hope" is the thing with feathers -
That perches in the soul -
And sings the tune without the words -
And never stops - at all -
And sweetest - in the Gale - is heard -
And sore must be the storm -
That could abash the little Bird
That kept so many warm -
I’ve heard it in the chillest land -
And on the strangest Sea -
Yet - never - in Extremity,
It asked a crumb - of me.
-- Emily Dickinson

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

BEIJO - JORGE DE SENA


Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.

Caricia


 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Dia nacional da língua portuguesa

dia da língua

dia

de língua

noite

dia nacional da língua portuguesa

brasileira

eira

beira

beira da língua

língua beirada de mim

que mira beirada outra

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Sobre alegria e desalegria


 

EUGÉNIO DE ANDRADE - ENTRE OS TEUS LÁBIOS


Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

EUGÉNIO DE ANDRADE

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Mia Couto

"O voar não vem da asa. O beija-flor tão abreviadinho de asa, não é o que voa mais perfeito?"
Mia Couto

Noção cadê?


 

Cynthia Ozick

 “The power of language, it seems to me, is the only kind of power a writer is entitled to.” —Cynthia Ozick

domingo, 1 de novembro de 2020

HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM - ALEXANDRE O'NEILL


Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

ALEXANDRE O'NEILL