sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Prece-poema

No subsolo da biblioteca, eu labuto o texto. Sob centenas, milhares de livros, eu busco o acaso do encontro com a palavra. Almejar é tudo o que me é permitido fazer. Ansiar pelo toque suave de uma proparoxítona que seja brisa e dance ao luar, enquanto emula teus calcanhares. Ou o assombro tonitroante de algum substantivo, imponente, desvelador de verdades que a alma busca disfarçar. As palavras valsam sobre a minha cabeça e contam casos de amor e solidão, deslizam até o bebedouro e são, já, fonte natural de tudo o que existe, chovem, ignorando o teto que me abriga, e encharcam a tela do computador com o esboço de uma prece-poema. 

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