Do clássico dilema de cada palavra de querer transcender a condição de palavra meramente escrita e acariciar teu rosto, ou, a depender da palavra, tuas coxas. Ou vai ver a palavra sabe de seu papel e os desejos são estritamente meus. Mas acho que não. Sempre tive a impressão de que as palavras têm vida própria, de que ganham tua direção por apreciarem tua presença, de que percorrem essa rua e não aquela por conta de um pé de laranjeira que torne o trajeto mais agradável, de que escolhem aparecer em profusão em um dia e se esconder no outro também por capricho, e de que adoram te rodear, sussurrando a teu ouvido essa bagunça que se desenha como meu coração (tenho certeza de que se riem dessa parte)... para mim, há uma metafísica na palavra escrita que vai além da minha humilde compreensão... penso que a palavra se apaixona por teu nariz, quase que como eu, e, influenciada por meu desejo, busca se tornar tato. Aliás, aí já nem sei se é a palavra que me influencia ou se sou eu a moldá-la... vai ver são elas que me imbuem cotidianamente nessa vontade incrível de tocar teu nariz que faz com eu sorria só de vislumbrá-lo em pensamento. Escrever é esse reunir-se com a palavra e perscrutar horizontes. Curioso é que abraço a palavra mas queria era te abraçar, e a palavra talvez me abrace pensando em ti e ciente do meu desejo de que ela, palavra, te encontre e te abrace também. Diz se não tem metafísica nisso?
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