sexta-feira, 5 de abril de 2019

Sobre nomes

E a certa altura decidimos nomear tudo. E um cachorro se chamava, já, cachorro, porque tinha quatro patas, a gentileza do mundo, e talvez porque não fosse um pato. Panturrilha era panturrilha, mas também era batata da perna, e há de se dizer que é uma escolha muito mais acertada, apetitosa, até. E tinha um taco da noite que tinha porque tinha teu nome escrito nela. Juro pelo pão de queijo quentinho que um dado espaço de tempo da noite era destinado a que a imaginação percorresse as alamedas que davam na tua nuca, ou desembocavam em tua orelha (por mais das vezes a esquerda), ou embocavam mesmo, levavam à boca, que é casa da palavra mas é também abrigo do beijo, oras... refúgio do teu sorriso de fazer corar o poema... ou subiam uns dez minutos, dobravam uma esquina com uma roseira branca e calhavam de aparecer bem na voltinha do teu nariz... o endereço variava, por vezes, se o bocado da noite beijava o Sol que se despedia ou o que se apresentava já renovado, ou se vinha de mãos dadas com o sonho em pincel, te pintando em cores que ainda hei de nomear.

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