domingo, 17 de março de 2024

Segredos – Ondjaki

chovo-me folhas
em abano de árvore.
banho-me de pingos
com picos achuviscados.
cuspo pés de relva
mas abocanho terras.
bitroncalizo galhos
para manusear estalidos.
atropelo-me por bichinhos
para xinguilar-me em cócegas.
salivo sóis
pondo língua em estendal.
furo peles
para o chão sanguenhecer-me.
desatribuo vestes
chibatando-me de ventos.
desorbito olhos
e reorbito-me luas.
para fraldas
uso nuvens.
afogueiro-me fumos
desumanizando cheiros.
para iluminar mundos
invoco pirilampos.
enquerendo saltitar
apulgo-me.
em comichões
aguardo terramotos.
para paz
prescrevo assilêncios.
para repaz
procuro âmagos.
chovo-me lágrimas
em sacudir de mins.
para segredos húmidos…
só respeito a lesma.
.
– Ondjaki, no livro “Há prendisajens com o xão”. Pallas, 2011

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