quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

4:45

4:45 da manhã e eu espio o relógio percorrer os cinco minutos restantes até a hora de eu ter de me levantar. Isso não é um poema, penso. Me indago sobre próclises e ênclises e como não me soa natural começar uma frase com ênclise, enquanto imagino quantas vezes é possível sussurrar teu nome em pensamento até que o celular apite e a marcha para o chuveiro se transforme em realidade. E nessas horas o pensamento é bicho danado, passeia de Calcutá a Barbalha saltando em um pé só, enquanto tece teorias da conspiração e busca na memória aquele verso de Quintana que não vinha de jeito nenhum quando dele se precisava para fazer frente à voracidade do horário comercial. Cinco minutos, salvo engano é um romance de José de Alencar, mas esse eu não li. Será que tem alguma personagem que me remeteria irremediavelmente às tuas madeixas? O gato jájá reclama que quer ração, mesmo que ainda haja na tigela, e meus passos zumbis atenderão ao chamado, ainda que com um breve resmungo. Fecho os olhos e catalogo frases de músicas que ouvi na última semana. Será que descubro alguma bandinha foda hoje? Meus fones gigantes quase que me isolam do mundo. Agora movo os lábios em silêncio, pronunciando uma letra que gostaria de ter sido eu a compor. Agora isso é poema, talvez.

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