quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Luneta

 Há um tantinho de loucura no amor. Bukowski diria mais, mas não sou Buka. Há no ridículo, quiçá admirado, algo que fora da intimidade soaria tresloucado. O mal-estar civilizacional alardeado por Freud ganha uma folguinha na permissão do par para que se extrapole as fronteiras do que se mostra como fachada de alvenaria em bairro residencial de família. Nelson Rodrigues adorava justamente o que se apresenta por detrás dessa dita fachada. Os gostos de porta fechada ou no máximo entreaberta. Essa loucura que por vezes não confessamos nem a nós mesmos, receosos de que o espelho responda, como o da bruxa da Branca de Neve, sinal de que aí estaríamos assumindo o desvario. Adorando o desvario, por vezes. O amor é uma brecha pra outra pessoa espiar. É luneta pro mundo da Lua alheio.

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