terça-feira, 11 de agosto de 2020

Mexerica

 Em agosto, escrevia uma peça sobre tuas pernas, bacana, catalogava meus percalços e flertava cabulosamente com a ideia de que, se eu conseguisse descascar uma mexerica do jeito certo, tu brotaria, feito verso, bem no meu sofá, como se a mexerica fosse a lâmpada do Aladin, e o universo conservasse um atalho a ser desvendado por palavras e mexericas, tangerinas, bergamotas e quantos nomes tu tivesse na caixola. Por vielas e viadutos transitavam tuas pernas, e dançavam pelo meu teclado. Escrever, pois, era um ritual de tato. Era desenhar com palavras. O atalho do universo fazia as vezes dos caminhos de Roma, em papiro ou caneta, pincel ou filme kodak. A rosa de Shakespeare, que tivesse tantos nomes quanto ponkan, alcançada no atalho, via lápis da Faber Castell ou roteiros do Kaufman, cartas de amor ou quadros de Dalí. Desaguaria, eu, em tuas místicas pernas, salvo por alguma palavra e encaminhado por peça, bergamota em mãos e sonho na alma.

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