sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

meus transtornos relativos à construção visual de determinados personagens por conta da propagação de imagens televisivas de personagens literários

Recentemente estive conversando com um amigo sobre os sérios problemas que enfrentei lendo alguns livros como Dom Quixote ou Otelo. Vivi e aproveitei plenamente minha infância (acho que ainda o faço, mas isso é outra estória), e assisti a quase tudo que é programa infantil, como Jaspion, Chaves e por aí vai. Pois é, o ponto é que tive a fantástica experiência de assistir à interpretação de vários clássicos literários como Dom Quixote, Romeu e Julieta e Fausto no programa do Chapolin, e a imagem de alguns personagens dessas interpretações ficou na minha cabeça, como por exemplo o eterno Seu Madruga como Dom Quixote (eu sei que o nome do ator é Ramon Valdez, mas pra mim sempre será o Seu Madruga). Isso me causou vários transtornos enquanto lia a magistral obra de Cervantes, porque só conseguia vislumbrar em minha mente Dom Quixote como o Seu Madruga, assim como Sancho Pança como Seu Barriga e a inesquecível Dulcinéia del Toboso como a Dona Florinda. Foi um caso sério, me revirava, faltava ficar doido, mas não consegui tirar da cabeça essas construções de personagens, aí tive de desistir e ler o livro assim mesmo, o que não foi de todo ruim, dado o caráter cômico do livro.
Mas quando fui ler Otelo o problema alcançou dimensões um pouco mais drásticas, já que Otelo é uma obra séria, que exige a adequada concentração. Pois bem, começo a ler o livro e eis que dou de cara com um personagem chamado Iago, que é um dos mais interessantes personagens do universo shakespereano em minha opinião, só que possui o mesmo bendito nome do papagaio vermelho do desenho do Aladim. Diabos, o quanto amaldiçoei essa coincidência, supondo que se trate mesmo de uma coincidência e que o personagem não seja alguma forma de homenagem ao personagem de Shakespeare. O fato é que sempre que o personagem Iago aparecia em cena no livro, não conseguia imaginar outra figura senão um cara com uma cabeça de papagaio, e ainda por cima vermelha... era realmente complicado levar a cena a sério com uma figura tão esdrúxula conspirando contra Otelo e Desdêmona. Eu pensava "Deus meu, como esse mouro pode levar a sério tal figura" e a obra de Shakespeare padecia reconstruída nos recantos obscuros de minha mente. Por alguns momentos consegui me livrar de tão fatídica imagem, mas a verdade é que tive de dar continuidade à leitura sob tais circunstâncias e isso provavelmente afetou minha visão da obra.
Por esses dias cogitava a leitura de Fausto e me perguntava se a imagem que faria do protagonista seria a do Chaves vestido a rigor, como na interpretação chapolineana (olha só que termo chique), assim como o Seu Madruga (novamente ele) como Mephistópheles, mas só o tempo dirá.

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