Recentemente estive conversando com um amigo sobre os sérios problemas que enfrentei lendo alguns livros como Dom Quixote ou Otelo. Vivi e aproveitei plenamente minha infância (acho que ainda o faço, mas isso é outra estória), e assisti a quase tudo que é programa infantil, como Jaspion, Chaves e por aí vai. Pois é, o ponto é que tive a fantástica experiência de assistir à interpretação de vários clássicos literários como Dom Quixote, Romeu e Julieta e Fausto no programa do Chapolin, e a imagem de alguns personagens dessas interpretações ficou na minha cabeça, como por exemplo o eterno Seu Madruga como Dom Quixote (eu sei que o nome do ator é Ramon Valdez, mas pra mim sempre será o Seu Madruga). Isso me causou vários transtornos enquanto lia a magistral obra de Cervantes, porque só conseguia vislumbrar em minha mente Dom Quixote como o Seu Madruga, assim como Sancho Pança como Seu Barriga e a inesquecível Dulcinéia del Toboso como a Dona Florinda. Foi um caso sério, me revirava, faltava ficar doido, mas não consegui tirar da cabeça essas construções de personagens, aí tive de desistir e ler o livro assim mesmo, o que não foi de todo ruim, dado o caráter cômico do livro.
Mas quando fui ler Otelo o problema alcançou dimensões um pouco mais drásticas, já que Otelo é uma obra séria, que exige a adequada concentração. Pois bem, começo a ler o livro e eis que dou de cara com um personagem chamado Iago, que é um dos mais interessantes personagens do universo shakespereano em minha opinião, só que possui o mesmo bendito nome do papagaio vermelho do desenho do Aladim. Diabos, o quanto amaldiçoei essa coincidência, supondo que se trate mesmo de uma coincidência e que o personagem não seja alguma forma de homenagem ao personagem de Shakespeare. O fato é que sempre que o personagem Iago aparecia em cena no livro, não conseguia imaginar outra figura senão um cara com uma cabeça de papagaio, e ainda por cima vermelha... era realmente complicado levar a cena a sério com uma figura tão esdrúxula conspirando contra Otelo e Desdêmona. Eu pensava "Deus meu, como esse mouro pode levar a sério tal figura" e a obra de Shakespeare padecia reconstruída nos recantos obscuros de minha mente. Por alguns momentos consegui me livrar de tão fatídica imagem, mas a verdade é que tive de dar continuidade à leitura sob tais circunstâncias e isso provavelmente afetou minha visão da obra.
Por esses dias cogitava a leitura de Fausto e me perguntava se a imagem que faria do protagonista seria a do Chaves vestido a rigor, como na interpretação chapolineana (olha só que termo chique), assim como o Seu Madruga (novamente ele) como Mephistópheles, mas só o tempo dirá.
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